O domínio da leitura e da escrita é fundamental para uma participação efetiva do ser humano na vida em sociedade. Seu aprendizado está associado a várias habilidades cognitivas, que são as habilidades usadas para aprender, compreender e integrar as informações de uma forma significativa. Dentre as habilidades cognitivas que diretamente se relacionam com o aprendizado da leitura e da escrita, a consciência fonológica é vista como uma das habilidades mais fortemente relacionada, sendo considerada por muitos pesquisadores como a chave para o aprendizado da leitura e da escrita.
A consciência fonológica é definida como a habilidade de refletir sobre e manipular os sons da fala. Vários estudos evidenciaram que ela é precursora do desenvolvimento da leitura e da escrita. Ela é de grande importância para o aprendizado da leitura e da escrita, porque facilita a descoberta do princípio alfabético, o princípio de que símbolos escritos (uma letra ou um grupo de letras – os grafemas) estão associados a fonemas (menor unidade da cadeia falada que permite fazer distinções semânticas). A descoberta do princípio alfabético é dificultada pelo fato da fala ser caracterizada por um fluxo contínuo. Dessa forma, um dos maiores desafios encontrados por uma criança ao começar a aprender um sistema de escrita alfabético, como é o caso do português brasileiro, é entender que o fluxo contínuo da fala pode ser segmentado em unidades menores de som e que essas pequenas unidades são manipuláveis.
O que acontece no caso da consciência fonológica é que, apesar de crianças bem pequenas serem capazes de identificar e compreender a diferença entre palavras que se diferem em apenas um fonema (como por exemplo, ‘rato’ e ‘mato’), essa noção não é consciente. A princípio, as crianças parecem ser completamente inconscientes da existência dos menores segmentos de sons presentes nas palavras faladas, sendo o sentido das mesmas, e não os sons que as compõem, o aspecto mais importante da fala para as crianças. Dessa forma, a consciência fonológica não se refere a um processo automático de percepção da fala, mas exige a tomada da linguagem enquanto objeto do pensamento, afinal ela se refere à habilidade de refletir sobre e manipular os sons que compõem a fala.
A avaliação da consciência fonológica pode ser realizada por meio de várias tarefas diferentes. Essas tarefas se diferenciam quanto à unidade fonológica envolvida (rima, sílaba, fonema) e à demanda cognitiva que fazem (detecção de semelhança, segmentação, aglutinação, categorização, subtração, adição e transposição de sons da fala). Tarefas que envolvem a manipulação de sílabas costumam ser menos complexas do que tarefas que envolvem a manipulação de fonemas, afinal, as sílabas são bem demarcadas pelo fluxo acústico, enquanto os fonemas não se manifestam na fala como unidades discretas, eles são misturados e integrados uns aos outros, existindo como unidades separadas apenas em um nível abstrato, o que dificulta a percepção e a manipulação dessas estruturas.
Considerando que a prevenção da dificuldade de leitura e de escrita é muito mais eficaz do que a remediação dessas dificuldades é fundamental que se invista, desde cedo, no treinamento da consciência fonológica e de todas as variáveis cognitivas que se relacionam com o aprendizado da leitura e da escrita visando o sucesso na aquisição dessas habilidades.