Vamos começar falando sobre investimentos! Imagine que fizemos um investimento inicial, seja em um carro, ou em uma empresa ou mesmo em ações da bolsa de valores, que, após um tempo, passa a nos dar prejuízos. Incomodados e com medo de perder o investimento inicial, dobramos a aposta e investimos mais um pouco, contudo continuamos tendo prejuízos. Para evitar perder, agora um investimento ainda maior, continuamos investindo e não desistimos, enquanto o prejuízo só aumenta. Já pensou que isso pode acontecer em nossa vida pessoal, em relação a um relacionamento abusivo, um trabalho adoecedor ou mesmo amizades tóxicas?
O processo descrito foi estudado e entendido pela psicologia, e podemos entendê-lo sob diferentes óticas. Vamos falar sobre uma perspectiva, que chamaremos de custos irrecuperáveis. Tal fenômeno ocorre sempre que a pessoa entra em um ciclo de evitação, isso é, evitando vivenciar a perda de um investimento, ou um “fracassso”, ela dobra seu investimento pessoal, porém, esse não é recuperado em forma de benefícios.
Para exemplificar, vamos pensar em um trabalho desgastante, que oferece pouco reconhecimento e leva a pessoa à exaustão. Ela pode ter passado anos se dedicando para aquele cargo, ter feito cursos e se especializado, dessa forma, ainda que perceba os incômodos do ambiente, não aceita trocar ou abandonar um cargo após tantos investimentos. Assim, ela investe ainda mais, aumentando suas horas extras, intensificando o foco no trabalho e insistindo nas relações envolvidas. Isso pode até dar certo, mas os prejuízos também podem aumentar, e aí se torna importante reconhecer a hora de abandonar o barco.
Os custos irrecuperáveis são padrões evitativos, trabalhados em terapia quando envolvem ambientes e contextos patológicos para a pessoa, que se vê amarrada neles. Muitas vezes a dedicação e persistência levam ao sucesso, tanto no relacionamento, nas relações de amizade ou carreira profissional, no entanto, em situações de risco para saúde física e mental, isso pode se tornar altamente prejudicial. Sabe qual é o segredo? Entender e respeitar os próprios limites! Ter percepção do custo e benefícios dos investimentos pessoais e financeiros, bem como avaliar cuidadosamente o impacto gerado pelo processo. A partir daí, desenvolver aceitação da perda ou prejuízo, construindo, posteriormente, novas estratégias e novos investimentos.
A terapia é uma excelente aliada no entendimento de nossos investimentos pessoais, nossos limites, nossos alcances e prejuízos. Sair do automático e perceber todo mecanismo envolvido nesses contextos é o primeiro passo.