O Transtorno de Escoriação (Skin-picking) é caracterizado por comportamentos compulsivos e repetitivos de picar, escoriar, coçar, arranhar ou furar regiões da própria pele, de modo que os machucados resultem em danos ao tecido, podendo chegar a formar cicatrizes, manchas ou feridas. Por essa razão, é também considerado um problema dermatológico incluído na categoria denominada dermatite paraartefacta e dermatite factícia (Harth,Taube & Gieler, 2010), mesmo tendo como causa emocional. Acomete, em média, 1,4% da população geral, especialmente mulheres (Flessner, Busch, Heideman, & Woods, 2008).
É importante ressaltar que no transtorno de escoriação há tentativas repetidas de reduzir ou parar de se machucar, e mesmo assim não conseguem sem tratamento. Como consequência, observa-se um sofrimento emocional muito grande, bem como prejuízos em nível social e profissional em outras áreas da vida (APA, 2013). Muitas vezes, as pessoas com o transtorno de escoriação tem vergonha em procurar ajuda, muitos não usam algumas roupas para não mostrar os machucados ou usam mangas compridas para esconder, por exemplo.
Os estados emocionais influenciam muito no transtorno, principalmente a ansiedade, angústia, vergonha e tristeza. O ciclo da escoriação inicia tendo como a ansiedade sendo, geralmente, o principal desencadeador. Com isso há um aumento da (seja imediatamente antes de escoriar, seja quando tenta resistir ao impulso) e pode levar a gratificação, prazer ou um sentimento de alívio quando a pele ou casca foram arrancadas. O maior problema é que esse ciclo se retroalimenta, o alívio é temporário e depois de um tempo, a escoriação ocorre novamente.
- Alívio
- Tensão
- Ansiedade
- Escoriação
Em relação à comorbidades, o transtorno de escoriação é com frequência acompanhado de outros transtornos mentais, especialmente o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e Tricotilomania, bem como o Transtorno Depressivo Maior (APA, 2013).
O tratamento é multidisciplinar, engloba psicólogo e psiquiatra. Richartz, Gon e Zazula (2017) realizaram uma revisão bibliográfica de relatos de caso e de pesquisa aplicada realizada com pacientes com transtorno de escoriação e observou-se que as intervenções psicológicas foram efetivas para garantir redução do quadro patológico. A maioria dos pacientes melhoraram e, entre as principais estratégias terapêuticas, foi utilizada pela maioria dos terapeutas, a técnica chamada “terapia de reversão de hábito” (TRH). Na TRH, o objetivo é substituir um hábito nocivo por outro inofensivo, englobando a conscientização, relaxamento, resposta concorrente, apoio social e generalização do comportamento. De modo geral, dos estudos já desenvolvidos, há uma maior eficácia da terapia comportamental, terapia cognitivo-comportamental e terapia de aceitação e compromisso (Coginotti & Reis, 2016).
Quanto ao medicamento, são amplamente indicados os antidepressivos (geralmente da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina) e antipsicóticos. Para a melhor escolha, faz-se necessário observar as particularidades de cada paciente referentes às comorbidades e fatores desencadeadores do quadro clínico. Um dado importante foi o estudo no qual observaram que pacientes com transtorno de escoriação, como característica comum, a dificuldade de adesão ao tratamento medicamentoso, que acaba contribuindo com uma limitação de pesquisas científicas (Alves et al 2009 apud Coginotti & Reis 2016)
A tecnologia também pode ajudar como suporte social aos pacientes. Há um aplicativo chamado “Skinpick app” que está disponível no App Store e no Google Play, ele tem a função de monitoramento dos episódios de escoriação, ferramenta utilizada na terapia. Além do aplicativo, existem no Facebook grupos de apoio para ajudar as pessoas que sofrem com a doença, como o grupo “Dermatilomania”, “Skin Picking Brasil” e o “Dermatilomaníacos Anônimos – OSPA”.
Referências:
American Psychiatric Association, 2013. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed.). Washington, DC.
Coginotti, I.N & Reis, A.H, 2016. Transtorno de Escoriação (Skin Picking): revisão de literatura. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. 12(2). pp.64-72.
Flessner, C.A.; Busch, A.M.; Heideman P.W. & Woods, D.W., 2008. Acceptance-enhance behavior therapy (AEBT) for trichotillomania and chronic skin picking: exploring the effects of component sequencing. Behavior Modification, 32(5), 579-594.
Harth, W.; Taube, K.M. & Gieler, U., 2010. Facticious disorders in dermatology. Journal of the German Society of Dermatology, 8(5), 361-372.
Richartz, M.; Gon, M.C. & Zazula, R., 2017. Intervenções comportamentais para o transtorno de escoriação: revisão de artigos publicados em periódicos de saúde. Revista Brasileira de Análise do Comportamento. Vol. 13, No.2, 28-39.