É comum, em consultórios de psicologia, a queixa dos pais com relação ao sono das crianças e à demanda de como ajudá-los a ter um sono melhor. Elas variam desde agitação, bruxismo, pesadelos, enurese noturna, até a criança que não consegue dormir sozinha.
A literatura científica pertinente aponta os distúrbios de sono e suas causas mais comuns por faixa etária: nos lactentes os distúrbios de associação do início do sono; entre 2/3 anos, o hábito de alimentação ou ingestão noturna excessiva de líquidos, alergia ao leite de vaca, doenças crônicas ou agudas. Na criança pré-escolar e escolar apresentam-se a falta do estabelecimento de limites, medos, pesadelos, doenças crônicas ou agudas. Já na adolescência a ansiedade e pressões familiares ou escolares se fazem presentes, e os distúrbios emocionais e psiquiátricos e doenças crônicas ou agudas têm peso importante nestas alterações.
É fundamental que o psicodiagnóstico, ou seja, a avaliação das causas psicológicas que afetam o sono da criança seja realizada principalmente após a possibilidade da existência de causas orgânicas terem sido afastadas. Os diversos distúrbios do sono como o sonambulismo, o terror noturno, a enurese noturna e a insônia entre outros podem ser motivados sim por questões de ordem emocional, geradas em sua maioria na dinâmica familiar ou nos contextos nos quais ela está inserida. Portanto, o tratamento deverá intervir nesta dinâmica, além da própria dinâmica interna da criança se necessário.
A ansiedade dos pais ou responsáveis bem como a falta de organização e limites na educação da criança tornam-se fator principal na geração dos distúrbios do sono. Como exemplo, temos os pais de primeira viagem que tendem a ter maior dificuldade na separação dos filhos, o que pode ser fator gerador de ansiedade para os pequenos. Pais que trabalham muito e têm pouco tempo disponível para seus filhos podem sentir-se culpados e gerar ansiedade também na hora de dormir. É fato que crianças precisam de tempo disponível para estar com seus pais e vão cobrar tal disponibilidade, mas é importante que se busque não associar tal disponibilidade ao horário do sono.
A criança tende a associar a hora do sono ao afeto dos pais. O gerenciamento destas ansiedades, tanto de filhos quanto dos pais, faz parte do tratamento dos distúrbios do sono. O estabelecimento de limites e rotinas é fundamental nesta organização, e a dificuldade dos pais neste sentido precisa ser entendida e resolvida. A reorganização da dinâmica familiar, associada ao tratamento psicoterápico infantil bem como a utilização de técnicas de relaxamento e de mudanças de comportamento geram resultados positivos para o estabelecimento de algo tão importante para a criança: o sono que revigora.
FONTE:http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2014/09/07/aspecto-psicologico-na-insonia-infantil/