Vivemos tempos de reorganização em todas as esferas da vida. O isolamento social trouxe limitação para o nosso dia-a-dia, inclusive no ambiente de trabalho. Lá no escritório, era onde as ideias surgiam, as reuniões aconteciam e onde se cultivava a carreira. Aqui em casa, era o refúgio, o porto seguro, o lugar de descanso, de ficar com a família. Hoje já não podemos dizer a mesma coisa. A pandemia acelerou um processo que estava em crescimento, o home office, fazendo com que nos adaptássemos mais rápido do que estávamos prevendo e querendo.
O lar virou o escritório, a repartição pública, a faculdade, a escola e derrepente tudo mudou! Colocamos uma mesa de trabalho no canto do quarto ou da sala, está cheio de papel, planilhas e relatórios ali tão perto, invadindo o seu momento de descanso. Se você se vira e abre os olhos de madrugada, está de frente com toda a papelada. O horário de trabalho não está mais terminando quando acaba. O telefone toca e as mensagens chegam a qualquer horário.
Esta situação traz uma série de consequências para as pessoas envolvidas nesta rotina. Muitas vezes se trabalha mais … muito mais do que trabalharia se estivesse no lugar original de trabalho. Se por um lado há confusão entre o lugar de descanso e o de produção, falta de contato social entre os colegas e invasão das questões familiares no espaço do trabalho, por outro lado há ganhos também. O tempo no trânsito que tanto estressa é eliminado, assim como a alimentação de má qualidade e a mudança de perspectiva na realização de algumas tarefas que agora podem ser resolvidas com um clique. Ganha-se em qualidade de vida e em relações familiares, porém se faz necessária uma delimitação de tempo e espaço em relação ao trabalho.
Para quem trabalha em casa é preciso disciplina, concentração, foco, sob o risco de entrar num ciclo de procrastinação, baixa produtividade e muita frustração.
Aspectos muito importantes neste momento são o autoconhecimento e a autocompaixão. Permita-se uma adaptação aos novos tempos. Não se cobre além do que consegue dar conta. Ao invés disso olhe para si e perceba o que tira o seu foco, o que lhe traz ansiedade, o que lhe deixa desconfortável, desorganizado (a) e procure soluções para o seu problema. As mudanças sempre provocam incômodos, incertezas e falta de motivação. Entenda como está sendo para você viver o novo e se adapte à realidade que está presente.
Se o dia não está produtivo, reveja seus horários de acordar, de trabalhar, seus momentos de descanso e alimentação. Se não há um horário para começar e para terminar as atividades, o dia fica muito solto, sem planejamento e você pode acabar não fazendo o que é realmente importante. Manter uma rotina é imprescindível neste momento.
Se você sofre interrupções a todo momento de pessoas, de mensagens de fora do trabalho ou da TV com as notícias, estabeleça horários para ver o noticiário, as redes sociais e as mensagens não importantes, converse com as pessoas que moram com você a respeito da importância da sua concentração e foco para dar continuidade a uma tarefa ou a um raciocínio. Todos estão se adaptando.
Se você tem a sensação de que trabalhar em casa é trabalhar mais, talvez seja por estar prolongando demais o horário de término para “adiantar” alguma tarefa para o dia seguinte. Não caia nessa armadilha. Terminou o dia, deixe sua “mesa de trabalho” organizada para o dia seguinte, como se estivesse indo embora para casa. Isso dá a sensação de dever cumprido!
A adaptação acontece em tempos diferentes para cada pessoa. Uns sofrem em menor intensidade e por menos tempo, já outros sentem os efeitos mais intensamente, o que pode acarretar problemas psíquicos e podem precisar de acompanhamento com um profissional.