Certa vez uma paciente chega ao consultório chorando desesperadamente. Começou a falar sobre seu filho e contar histórias sobre a infância dele e do irmão mais novo. Por um segundo, diante de sua fala, entendi que seu filho havia morrido de uma tragédia repentina. Mas após mais algumas palavras, seu relato se conduzia para uma triste notícia semelhante a uma doença gravíssima, sem chances de cura ou tratamento. Essa mãe estava me dizendo que, naquela semana, ela havia descoberto que seu filho mais velho é gay. A todo tempo se questionava sobre suas atitudes durante a infância das crianças, e não conseguia encontrar razões para isso ter acontecido. Dizia, no meio de muito choro, sobre sua total dedicação na criação dos filhos, boas escolas, viagens em família. Não demonstrava, em nenhum momento, ¨raiva¨ do filho, mas sim, uma grande frustração quanto ao seu papel de mãe.
Se você, pai ou mãe, está na mesma posição desta paciente, a primeira coisa que eu venho te dizer é que você não fez nada de errado! Não procure onde você errou, ou quando mimou demais, ou quando tratou diferente, ou o que fez e o que não fez. A homossexualidade não é algo errado, então a ¨culpa¨ não é de ninguém. Ninguém errou!
Descobrir que um filho(a) é homossexual é algo muito desconfortável. Se o seu filho te contou, ou se você descobriu, não importa. Seu sofrimento, suas dúvidas, e seus questionamentos são totalmente comuns e aceitáveis.
Mas você já se deu conta do quanto é desconfortável para o seu filho SE descobrir homossexual?
A descoberta pela homossexualidade não é apenas um desejo de novas experiências. Não é apenas uma aventura de adolescente. Não tem nada a ver com religião, com má criação ou revolta.
Nesse texto eu te convido a refletir sobre o quanto foi difícil para seu filho(a) entender seus próprios sentimentos. Sobre o quanto foi angustiante para ele se ver como ¨o diferente¨. E o quanto ele provavelmente sofreu sozinho por isso.
Frequentemente vejo jovens homossexuais com ressentimentos e angústias sobre seu próprio corpo. Jovens que se cobram para estar em uma sociedade que os recrimina, que os violenta, que os menospreza. E em meio a tantos relatos tristes, percebo que o início das agressões verbais, e até mesmo físicas, começou em casa.
Seu filho(a) homossexual não deixou de ser a criança que você criou.
Seu filho homossexual continua sendo a criança que você ensinou a andar de bicicleta, ou que você ensinou a jogar futebol. Sua filha homossexual ainda é a criança amável e cheia de carinho pelas bonecas.
Seu filho não deixou de ser seu filho por ser homossexual.
E você não deixou de ser pai ou mãe do seu filho.
É comum que você se sinta triste, que você chore e que você se questione. Eu te entendo!
E o seu filho(a) também entende essa sua dor!
Porém, as expectativas de um casamento heterossuexual são tão abusivas quanto expectativas profissionais. Se você impõe ou exige ao seu filho que ele se case com uma pessoa do sexo oposto, você está agindo da mesma forma que aquele pai/mãe que exige que o filho faça medicina quando ele tem o sonho e o interesse de fazer filosofia. Neste caso, eu te convido a cuidar das suas próprias expectativas, ao invés de exigir que ele(a) as corresponda.
Ser pai ou mãe de um homossexual não é uma tarefa fácil. Pode ser tão difícil quanto ser homossexual.
As dúvidas em relação ao futuro, a vergonha do que as pessoas vão pensar e vão dizer sobre o seu filho(a), as piadinhas da família e dos amigos vão continuar acontecendo. É impossível impedir que nossos filhos sofram. Mas é possível ser o apoio e o acalento do seu filho(a) quando a sociedade os fizer sofrer.
Se ele não puder chorar no seu colo, onde mais ele vai?