Segundo o movimento cognitivista, que entende o funcionamento psicológico a partir de processamentos de informações, o indivíduo forma esquemas que o permitem organizar estímulos do ambiente e interpretá-los. Essas estruturas são moldadas a partir da interação com o meio ao longo de toda vida e, na ocorrência de um novo evento, são feitas leituras e atribuição de significado baseados nos esquemas preexistentes.
Assim, as interpretações que são dadas às situações, grupos, objetos e até a nós mesmos e nossas condições estão condicionadas a esses esquemas, já que são eles os responsáveis por organizar as informações e dar sentido a elas. Tal relação explica o fato de pessoas terem percepções diferentes sobre o mesmo evento, pois filtram e significam este de acordo com sua organização cognitiva, e não de forma direta.
Quando uma situação destoa muito de nossos esquemas, trazendo informações conflitantes com eles, sentimos um desconforto e ansiedade, que chamamos de dissonância cognitiva. Diante disso, alteramos nossos esquemas pra voltar a interpretar o evento ou distorcemos a realidade para que ela volte a ser compatível com nossa organização mental. Se, por exemplo, ao longo da vida a pessoa passa a duvidar de sua capacidade, acreditando que é incapaz, e em determinado momento começa a ter sucesso em processos seletivos e crescimento profissional, isso vai soar estranho e gerar dissonância. Diante dela, ele pode repensar sua real capacidade ou começar a achar justificativas para aquilo acontecer, como: “estava com sorte”, “tiveram dó de mim”, “não foram exigentes”, distorcendo a realidade para ela voltar a ser consonante com seu esquema.
O processo de dissonância e readequação ao esquema ocorre em todas as áreas da vida, pois trata-se de um mecanismo de processamento de informação. Está presente no âmbito social, relações afetivas, família, contexto profissional e até mesmo na manutenção de ideologias, auxiliando na adaptação ao contexto ou dificultando a percepção crítica de algumas situações. No último caso, o esquema se fortalece e a pessoa entra em um ciclo, o qual envolve a percepção da situação, as emoções associadas e comportamentos; fomentando assim padrões de respostas geradores de prejuízos e sofrimentos.
A terapia cognitivo-comportamental, entre outras coisas, auxilia no aumento da flexibilidade cognitiva, direcionamento atencional para eventos filtrados pelo esquema de processamento do paciente, bem como racionalização de pensamentos automáticos. Os avanços alcançados com as intervenções citadas ajudam na reestruturação dos esquemas de crenças, permitindo que a pessoa possa reformular melhor suas percepções e diminuir as distorções da realidade frente a uma dissonância.