Algumas pessoas se definem como sendo 8 ou 80, afirmando que não aceitam “meio termo” para as coisas. Quais são as consequências desse modo de ver o mundo?
Os pensamentos são sinalizadores de nossas percepções, seja sobre nós mesmos, sobre o mundo ou até mesmo sobre o futuro. Eles refletem regras e crenças que construímos ao longo de nossas vidas, de acordo com experiências, valores, aprendizagens, etc. Todo esse esquema de crenças influencia nossa interação com o meio, mediando e interpretando os eventos, o que chamamos de filtros mentais.
A influência que as nossas percepções e regras prévias exercem sobre nossos padrões emocionais e comportamentais é fundamental para entendermos as formas com que reagimos e lidamos com situações. A dicotomia é uma forma de polarizar os pensamentos entre “tudo” ou “nada”, refletindo uma limitação na flexibilidade que a pessoa apresenta ao ler o contexto.
A pessoa dicotômica oscila entre a situação ideal e a situação indesejada, não considerando avanços entre elas. Como exemplo, podemos citar o pensamento “ou eu sigo 100% da dieta, ou desisto e volto a comer de tudo”, ou ainda percepções como “se eu não fechar as provas, melhor trancar a faculdade”. Esse modo de pensar reflete a intolerância a falhas e pequenas imperfeições, levando a pessoa do 8 para o 80.
A maior consequência de tal padrão de pensamento é a instabilidade de decisões, comprometendo o engajamento em tarefas de persistência, e podendo alterar significativamente o humor. Cognitivamente falando, é um modelo de pensamento que pode desconsiderar ganhos, minimizar qualidades e levar a conclusões precipitadas, uma vez que não assume os níveis existentes entre os extremos. Além disso, a dicotomia pode levar a maiores índices de ansiedade frente a essas situações, já que a flexibilidade, limitada nesses casos, aumenta a capacidade de adaptação a novos contextos e resolução de problemas.
Sendo assim, é fundamental um trabalho de flexibilização, com aumento da tolerância a erros e maior equilíbrio nas tomadas de decisões, na busca por padrões cognitivos adaptados e coerentes com as demandas do contexto. Dessa forma, a pessoa aumenta sua capacidade de análise, de adequação e equilíbrio.