Os sintomas de abstinência são a maior evidência da presença da dependência. Eles se caracterizam por sintomas físicos e psíquicos de desconforto após a redução ou interrupção do consumo.
Quase todas as substâncias são capazes de desencadear sintomas de abstinência, e a intensidade destes é progressiva. Conforme a dependência aumenta, eleva-se a magnitude dos sintomas, que podem ser psíquicos (fissura, ansiedade, sintomas depressivos, irritação, piora da concentração e insônia), bem como físicos (tremores, suor difuso, palpitações cardíacas, aumento da temperatura do corpo, náuseas e vômitos) e levar a um estado de confusão mental (delirium).
A síndrome da abstinência é um sinal de adaptação do cérebro à presença constante da substância no organismo. Cada substância pode produzir sintomas de abstinência característicos. Para conhecer a particularidades de algumas substâncias você pode seguir a leitura, ou pular para a substância de interesse clicando: álcool, anabolizantes, anfetaminas, cocaína e crack, maconha e nicotina.
Álcool
Substância química lícita, encontrada em uma variedade de bebidas, sendo a mais utilizada no mundo. Está presente na maioria das festas e rituais religiosos e em todo local onde o consumo é aceito, há uma bebida típica da qual o povo se orgulha.
As complicações decorrentes do consumo de álcool não estão necessariamente relacionadas ao uso crônico. Intoxicações agudas, além de trazerem riscos diretos à saúde, deixam os indivíduos mais propensos a acidentes, gerando problema de saúde e segurança pública.
No Brasil a dependência do alcool acomete 11,2% dosbrasileiros que vivem nas 107 maiores cidades do país e, ao lado do tabagismo, é a que recebe mais atenção dos pesquisadores.
Efeitos agudos e crônicos: o álcool é um depressor cerebral e age em diversos órgãos, como fígado, coração, vasos e parede do estômago. A intoxicação é o uso nocivo em quantides acima do tolerável para o organismo, e seus sinais e sintomas caracterizam-se por níveis crescentes de depressãodo sistema nervoso central.
Inicialmente, há sintomas de euforia leve; depois tonturas, ataxia e falta de coordenação motora, cofusão e desorientação; graus variáveis de anestesia podem ser atingidos, entre eles o estupor e o coma.
Síndrome de abstinência: inicia-se horas após a interrupção ou diminuição do consumo. Os tremores nas extremidades e nos lábios são os mais comuns, além de náuseas, vômitos, sudorese, ansiedade e irritabilidade. Casos graves evoluem para convulsões e estados confusionais, com desorientação temporal e espacial, ilusões e alucinações auditivas, visuais e táteis.
Principais complicações decorrentes do uso crônico e intenso de álcool | |
Sistema gastrintestinal | Hepatopatias
Pacreatite crônica Gastrite Úlcera Neoplasias (boca,lingua, esôfago, estômago, fígado, etc) |
Sistema circulatório | Cardiomiopatias
Hipertensão arterial sistêmica |
Sangue | Aneminas (sobretudo megaloblástica)
Diminuição na contagem de leucócitos |
Sistema nervoso periférico | Neuropatia periférica |
Sistema reprodutor | Impotência (homens)
Alterações menstruais e infertilidade (mulheres) |
https://www.youtube.com/watch?v=EJSWUL7Njmg
Anabolizantes
São substâncias relacionadas a um hormônio masculino chamado testosterona, sua principal função é a reposição desse hormônio devido a um déficit ocorrido por algum problema de saúde. Além desse uso, eles favorecem o crescimento da musculatura, o aumento da síntede de proteínas e de cálcio nos ossos e o desenvolvimento das características sexuais masculinas.
Efeitos e riscos à saúde: icterícia, tremores, hipertensão, acne severa, tumores no fígado, retenção de líquidos, diminuição dos índices de HDL e dores nas articulações são alguns problemas que o consumo excessivo de anabolizantes pode causar.
Síndrome de abstinência: os sintomas prováveis são depressão, fadiga, inquietude, insônia, perda do apetite, diminuição da libido, fissura, cefaléia, insatisfaão com a imagem corporal e ideação suicida.
Complicações clínicas: o uso abusivo em homens causa diminuição da produção e da qualidade de espermatozoides e redução no tamanho dos testículos; impotência, infertilidade, aumento da próstata, dificuldade ou dor para urinar, desenvolvimento de mamas, calvície, maior chance de neoplasia do rim e do fígado e infarto do miocárdio. Nas mulheres os efeitos podem ser voz gossa, aumento do clitóris, crescimento de pelos faciais, alterações ou ausência de ciclo menstrual e diminuição dos seios. Nos adolescentes, há maturação esquelética prematura e puberdade acelerada, o que resulta em um crescimento raquítico.
O abuso de anabolizantes pode causar também variações de humor, inclusive agressividade, o que pode gerar episódios violentos. Podem também experimentar ciúme patológico, irritabilidade e ilusões, podendo ter uma distorção de julgamento em relação a sentimentos de invencibilidade, distração, confusão mental e esquecimentos.
Anfetaminas
São estimulantes da atividade do sistema nervoso central. No Brasil, a maior parte da anfetamina consumida é vendida legalmente em farmácias, como prescrição para o tratamento de TDAH, narcolepsia e da obesidade, mas há também as ilícitas.
Efeitos agudos: diminuição do sono e do apetite, aceleração da velocidade do pensamento, maior produção de fala e inquietação. Há uma elevação do estado de alerta e instabilidade do humor, podendo variar da euforia ao mal-estar psíquico. Ocorre também dilatação da pupila, aumento dos batimentos cardíacos e hipertensão.
Complicações clínicas: uso crônico gera estados de desnutrição e problemas como infarto agudo do miocárdio, cegueira cortical transitória, cardiopatiras irreversíveis, vasoespasmos sistêmicos e edema agudo pulmonar.
Cocaína e Crack
O hábito de mascar folhas de coca entre a poplação nativa dos Andes existe a pelo menos 5 mil anos, tendo surgido com o objetivo de amenizar o cansaço e a fome. A baixa concentração nas folhas tornam improváveis as chances de dependência, situação que surgiu a partir do século XIX, quando a cocaína foi isolada de suas folhas. O crack e a merla, surgidos em meados dos anos 1980, são a cocaína em sua forma de ase livre (cocaína aquecido em água e bicarbonato de sódio, que toma a forma de cristais).
A cocaína é um estimulante, cuja euforia desencadeada reforça e motiva, na maioria dos indivíduos, o desejo por um novo episódio de consumo, mas quanto mais rápido o início da ação, quanto maior a sua intesidade e quanto menor a sua duração, maior será a chance de o indivíduo evoluir para situações de uso nocivo e dependência. Todos esses fenômenos são influenciados pela via de administração escolhida, e por isso ela e um importante fator de risco para o uso nocivo e para a dependência.
Principais sintomas decorrentes do consumo de cocaína | |
Sintomas psíquicos | Sintomas físicos |
Aceleração do pensamento
Inquietação psicomotora Aumento do estado de alerta Inibição do apetite Labilidade do humor, variando da euforia ao mal-estar |
Aumento da frequência cardíaca
Aumento da temperatura corporal Aumento da frequência respiratória Aumento da transpiração Tremos leve de extremidades Contrações musculares involutárias (especialmente língua e mandíbula) Tiques Dilataão da pupila (midríase) |
Síndrome de abstinência: períodos de desejo intenso pelo consumo de cocaína, associados a outros sintomas, como fadiga, anedonia e depressão, resultando no retorno ao uso da droga. A síndrome de abstinência é composta por três fases:
- Fase I – Crash: drástica redução no humor e na energia (instala-se cerca de 15 a 30 minutos após o uso da droga, persistindo por cerca de oito horas e com possibilidade de estender-se por até quatro dias). O usuário pode sentir depressão, ansiedade, paranoia e um internso desejo de voltar a usar a droga (craving ou fissura). Instalam-se a hipersonia e a aversão ao uso de mais cocaína, e o individuo pode despertar para ingerir alimentos.
- Fase II – Síndrome disfórica tardia: inicia-se de 12 a 96 horas depois de cessado o uso e pode durar de 2 a 12 semanas. Nos primeiros quatro dias há sonolência e desejo pelo consumo da droga, anedonia, irritabilidade, problemas de memória e ideação suicida. Ocorrem recaídas frequentemente coo tentativa de aliviar os sintomas disfóricos.
- Fase III – Fase de extinção: os sintomas disfóricos diminuem ou cessam por completo, e o craving torna-se intermitente.
https://www.youtube.com/watch?v=-yr6KLQGT_o
https://www.youtube.com/watch?v=OutwugmiPiY
Maconha
A maconha é um alucinógeno, cujo princípio ativo é THC (tetra-hidrocanabinol). Há muitos fatores que influenciam seus efeitos, tais como a concentração de THC na planta, a sensibilidade aos efeitos, as experiências prévis do usuário e o ambiente do consumo.
Efeitos: Em geral, o uso é seguido por alterações nos sentidos (visão, audição, olfato), na cognição (pensamento, memória e atenção) e no humor. Há alterações da orientação de tempo e espaço e ilusões visuais e auditivas. A capacidade de concentração de de realizar atividades elaboradas ou cálculos diminui muito. A capacidade de trabalho em tarefas que exigem atenção é prejudicada, assim como a condução de veículos.
Sintomas de abstinência: fissura, irritabilidade, nervosismo, inquietação, sintomas depressivos, insônia, redução do apetite e cefaleia.
Sinais e sintomas decorrentes do consumo da maconha | ||
Efeitos euforizantes | Alteração da percepção do tempo
Risos imotivados Fala solta |
Sensação de relaxamento
Aumento da percepção das cores, sons, texturas e paladar |
Efeitos físicos | Taquicardia
Hiperemia conjutival Boca seca Hipotermia Tontura Retardo psicomotor Redução da capacidade para execução de atividades motoras complexas Falta de coordenação motora |
Redução da acuidade auditiva
Aumento da acudiade visual Broncodilatação Hipotensão ortostática Aumento do apetite Xerostomia Tosse Midríase
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Efeitos psíquicos | Despersonalização
Desrealização Depressão Alucinações e ilusões Sonolência Ansiedade Irritabilidade Prejuízos à concentração |
Prejuízo da memória de curto prazo
Letargia Excitação psicomotora Ataques de pânico Autorreferência e paranóia Prejuízo do julgamento |
https://www.youtube.com/watch?v=nmcsyZU19tU
Nicotina
Pode não parecer, mas o consumo de tabaco é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Entre as 25 doenças relacionadas ao hábito de fumas, todas são causas de morte: doenças cardiovasculares (43%), câncer (36%), doenças respiratórias (20%) e outras (1%).
https://www.youtube.com/watch?v=tvUSxMXkmlU
Embora o primeiro cigarro fumado seja predominantemente marcado por efeitos desagradáveis – dor de cabeça, tonturas, nervosismo, insônia, tosse e náusea -, a diminuição dos sintomas é rápida e, então, um consumo diário se estabelece.
A nicotina é um estimulante leve e causa dependência química.
Efeitos agudos e crônicos e riscos à saúde: os processos farmacológicos e comportamentais que determinam a dependência de nicotina são similares àqueles da heroína e da cocaína. Os danos à saúde causados pelo tabagismo, porém, não são devidos somente à nicotina. O cigarro contem mais de 4700 substâncias, algumas cancerígenas e outras tóxicas para vários órgãos do corpo. Assim, o consumo está relacionado a muitas patologias graves: danos pulmonares, como insuficiência respiratória, asma, bronquietes e cancer de pulmão. O tabagismo aumenta o risco de problemas cardíacos e circulatórios, tais como hipertensão, obstrução dos vasos e infarto. A maioria das mortes evitáveis é causada pelo cigarro.
Síndrome de abstinência: em um período que pode ser de poucos meses, aguns fumantes já começam a apresentar os primeiros sintomas da síndrome de abstinência. Seus sintomas e magnitudes podem persistir por meses, e, dependendo da gravidade, são pouco tolerados. Os sintomas psicológicos relacionados à falta de nicotina são homor disfórico ou deprimido, insônia, irritabilidade, frustração, raiva, ansiedade e dificuldade de concentração. Já os sinais físicos são taquicardia, hipertensão, tremores e sudorese.
https://www.youtube.com/watch?v=C-XjcJqWWTI&list=PLB_rcPiqiMPwp81m1OFBQPyFoy1EHny0P
É importante destacar, como dito em nosso texto anterior, que há tratamento para a dependência química. Profissionais especializados na área são fundamentais para desconstruir estigmas quanto ao tratamento, tanto para o dependente quanto para os familiares envolvidos.