A discussão entre “questões da mente” e “questões do cérebro” sempre esteve em alta na psicologia. Há tempos se pensa em “tratar a mente com terapia” e “tratar o cérebro com medicação”, mas será que estão separados assim? Os resultados do processo psicoterapêutico são indiscutíveis na qualidade de vida, mudanças de perspectivas e comportamentos, diminuição de sintomas psicopatológicos, entre outros. Com os avanços da neurociência, esses resultados têm sido apontados também através de estudos que mostram mudanças neurofuncionais a partir de intervenções psicológicas, reforçando o mapeamento da interferência desse processo nos aspectos estruturais e funcionais do cérebro.
Recentemente, pesquisas na área têm feito aproximações entre as Terapias Cognitivas e Neuropsicologia, uma vez que essa interface é de grande valia para o entendimento e tratamento dos transtornos mentais como um todo. Nos quadros psicopatológicos são observados padrões de interpretações tendenciosas sobre os eventos, a partir de crenças (percepções) particulares da pessoa, o que interfere em como ela se sente e se comporta diante do fato. Porém, é possível destacar algumas dificuldades funcionais relacionadas à autogestão e às funções executivas, como: rigidez de pensamento, dificuldade em controle inibitório, diminuição na capacidade de resolução de problemas, entre outros processos cognitivos que podem estar envolvidos no transtorno apresentado.
Alguns pesquisadores têm chamado atenção para o fato de técnicas utilizadas nas Terapias Cognitivas serem capazes de interferir também nos processos cognitivos citados, em particular na capacidade de flexibilizar a cognição, e inibir comportamentos e pensamentos disfuncionais, bem como mudanças em processos atencionais. Diferentes pesquisas afirmam a eficácia dessas terapias em atuar, através da reestruturação cognitiva, sobre a capacidade de reformular regras comportamentais, identificação e testagem de novas hipóteses a partir da flexibilização, processo de aprendizagem implícita e explícita, bem como o aumento das habilidades de autorregulação emocional e comportamental.
O processo terapêutico gera mudanças expressivas na forma de entender e se comportar no mundo. Os estudos de neuroimagem apontam que regiões, como por exemplo: Sistema límbico (responsável pela modulação emocional) e Córtex pré-frontal (responsável pelo controle comportamental, regulação social, tomada de decisão, flexibilidade cognitiva, expressão da personalidade, entre outros) sofrem mudanças funcionais após intervenções das Terapias Cognitivas.
Dessa forma, esse modelo terapêutico atuaria nos filtros mentais (crenças e percepções que interferem na interpretação dos fatos) e nos mecanismos neurocognitivos relacionados ao controle de conduta e emoção. Essa estreita relação entre neurociência e Terapias Cognitivas se tornou importante na validação dos aspectos clínicos dessas abordagens, mas ainda enfrenta desafios na integração conceitual e metodológica das duas teorias.