Ver um filho sair de casa para estudar, morar sozinho, casar ou trabalhar em outra cidade costuma causar sentimentos distintos nos pais: felicidade, orgulho, sensação de dever cumprido, mas, também, uma estranheza mesclada à dor que os especialistas costumam denominar síndrome do ninho vazio.
“É um processo de adaptação. Cada pessoa sente de forma singular as transformações que acontecem na rotina”, afirma a psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Não importa que os pais saibam que sua prole está bem. Emocionalmente, há uma forte perda”, diz a psicóloga Maria Celia de Abreu, também de São Paulo. Alguns especialistas respondem às principais dúvidas em relação a esta fase e orientam os pais sobre o que fazer para enfrentá-la.
Existem pessoas que são mais suscetíveis ao problema?
“A sensação de estranheza e vazio quando um filho sai de casa é natural. Porém, pessoas possessivas, depressivas ou com dificuldade de lidar com mudanças, em geral, sofrem mais nessa fase”, diz Dorit Wallach Verea, psicóloga da Clínica Prisma, em São Paulo.
Quanto tempo a síndrome costuma durar?
De acordo com Denise Pará Diniz, trata-se de uma crise existencial de curta duração (cerca de um ano, no máximo), cujo tempo é determinado por alguns fatores, como o número de filhos, dinâmica de comportamento, capacidade de enfrentamento, outras atividades que exijam atenção, suporte social e até mesmo apoio do próprio filho. “Dependendo da intensidade e da presença de sintomas típicos de depressão, é importante que a pessoa seja acompanhada por um profissional”, diz a especialista.
É verdade as mães sofrem mais com o ninho vazio?
Sim, pois são elas quem mais vivem em função dos filhos, enquanto eles crescem. “É difícil, também, para algumas mulheres que atravessam o momento da entrada da menopausa e a perda de alguns atributos tão valorizados em nossa cultura, como a juventude e a sensualidade”, explica a psicoterapeuta Dorli Kamkhagi, coordenadora de Grupos do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo). “Deixar de ocupar o lugar de mulher e mãe como função principal pode ser muito complicado e necessitar ajuda psicológica. É uma travessia muito difícil e importante a ser enfrentada.”
Somente os pais sentem essa sensação de perda?
Não. Ela também acomete quem até então convivia de perto com o jovem. “Crianças e adolescentes assumem um papel e uma função não apenas na vida dos pais, mas também na vida de pessoas queridas, como avós, padrinhos ou babás, que precisarão ter suas rotinas revistas e redimensionadas”, diz Dorit Verea. É menos frequente, mas os irmãos que continuam na casa dos pais também sentem a mudança da dinâmica familiar e podem desenvolver a síndrome do ninho vazio.
Há um período essencial de “luto”?
“Sim, pois a situação é percebida como perda”, diz Maria Celia de Abreu. A duração desse período será mais ou menos estendida conforme algumas características da pessoa e das circunstâncias. O primeiro passo é evitar negar o sentimento e não lotar o cotidiano de atividades para fugir da dor. “É preciso reconhecê-la, vivenciá-la e aceitá-la, para, então, superá-la”, explica a psicóloga.
Qual é o perfil de quem atravessa essa fase com mais serenidade?
Pessoas otimistas, que têm mais energia e maior capacidade de se adaptar a situações novas, tendem a ter um tempo de luto menos longo e menos pesado. Consideram logo a possibilidade de criar novos projetos. “Quem manteve abertas as portas para o mundo, bem como cultivou outras relações de afeto substanciais além da relação com o filho, está mais preparado para superar a dor do vazio e encontrar como preenchê-lo”, afirma Maria Celia, referindo-se, em especial, aos casais que cultivaram o vínculo amoroso. “Outras pessoas ficam amarguradas e não conseguem estabelecer e se adaptar às novas mudanças, vivem do passado e acabam adoecendo e destruindo todas as possibilidades de construírem pontes saudáveis para o futuro”, diz Dorli Kamkhagi.
Alguns pais costumam sentir culpa nesse momento?
Com poucas exceções, sentimentos de culpa surgem, junto com a sensação de vazio. Eles podem acometer quem acha que trabalhou demais e deveria ter aproveitado melhor a infância dos filhos, por exemplo. Refletir sobre essa culpa, reconsiderar situações da história de vida e empenhar-se em entendê-las são caminhos para superá-los.
Os filhos também costumam ser atingidos pela síndrome?
Eles podem ter medo de se adaptar ao novo, sentir insegurança, pois o ninho em que viveram não propiciou condições de transformações. “Mas isso nem sempre tem a ver com a relação com os pais. Existem dificuldades e medos característicos da estrutura psicológica e maturacional de cada pessoa, mas todos nós, em algum momento de nossa trajetória, podemos precisar de cuidados dentro e fora do ninho”, afirma Dorli Kamkhagi.
Pais jovens também podem desenvolvê-la?
Todas as pessoas que perdem a convivência com os filhos ou que percebem a autonomia que ele está adquirindo, em vez de considerar a evolução como motivo de alegria –porque houve crescimento e desenvolvimento–, apresenta dificuldade, pois há um apego exagerado”, afirma a psicóloga Denise Diniz. Portanto, esse sentimento não está ligado à idade, mas a forma de se relacionar.
Como lidar com a síndrome da uma forma positiva?
Denise Diniz aconselha ter flexibilidade e criatividade para estabelecer uma nova organização familiar, mais madura e igual entre pais e filhos. É hora de aceitar cada membro da família como indivíduo independente e com suas necessidades, seus pontos fortes e as suas falhas”, diz. Individualmente, é necessário encontrar novos interesses e atividades, como trabalho voluntário, cursos, jogos, academia, viagens e alimentar a vida social. “Já o casal deve buscar atividades de lazer que ambos tenham prazer. Caso encontrem problemas de relacionamento nesse momento, é hora de buscar ajuda”, diz a psicóloga.
Fonte: http://acritica.uol.com.br/vida/desafio-enfrentar-Sindrome-Ninho-Vazio_0_646735342.html