A cena é clássica: ao colocar seu filho na cama, ele declara que não pode dormir ali, porque tem um monstro no armário. O que você faz? Mostra para ele que não tem uma criatura no guarda-roupa, ri e diz que ele já está muito grandinho para acreditar nestas coisas ou imediatamente deixa a criança se acomodar no seu quarto?
A segunda e a terceira opções estão fora de cogitação. Para lidar com os medos infantis, é preciso oferecer segurança à criança e respeitar o temor que ela manifesta. “Subestimar os medos é proibido. E desmoralizar a criança só piora”, explica o psicólogo Bruno Sini Scarpato, de São Paulo, especialista em atendimento infantil.
É natural e esperado que as crianças sintam medo. Ele é um alerta de que algo ameaçador pode acontecer e evita que o ser humano corra riscos desnecessários. A ausência dele, em certas idades, é até preocupante: se uma criança não desenvolve o medo instintivo de altura, por exemplo, pode engatinhar até a beira da cama ou do sofá e cair.
A psicóloga Adela Stoppel de Gueller, coordenadora do setor de Clínica e Pesquisa do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientae, explica que entre os 3 e os 5 anos elas estão na fase natural dos temores. O medo de trovão, do escuro, de monstros ou de dormir sozinho são naturais e devem passar conforme a criança cresce e amadurece emocionalmente. Mas o papel dos pais é fundamental para facilitar este processo – ou para transformá-lo em um trauma difícil de superar.
Como ajudar seu filho
Respeito e apoio são importantes, mas não suficientes. Ao lidar com os medos do seu filho, você precisa ter coerência. Não pode dizer que o Homem do Saco não existe quando a criança chora à noite, mas na manhã seguinte falar em alto e bom som que o mesmo Homem do Saco vem pegá-la se ela não comer toda a comida.
Compreensão também é essencial. Mostrar que é normal sentir medo e que todo mundo tem os seus – inclusive você. “Conversar bastante com a criança é a melhor forma de traçar uma estratégia”, defende Bruno Scarpato. E fique atenta para detectar o problema: muitas vezes, as crianças têm medo de expor seus sentimentos quando sentem medo. Se estão apavoradas por dormirem sozinhas, alegam que não estão com sono ou insistem em assistir a televisão até tarde, tudo para evitar a hora de dar boa noite. “Elas passam simplesmente a evitar a situação”, explica Adela.
Quando a criança é muito pequena, pode ser difícil reconhecer o que a assusta. Muitas vezes ela mesma não consegue definir, muito menos conversar sobre isso com os pais. Nesse caso, tente eliminar as possibilidades. Se ela se nega a ir para a cama, crie cenários diferentes até descobrir o problema. “Os pais podem questionar: ‘e se deixarmos a luz acesa, tudo bem? E quando você dorme na casa da vovó? E se ficarmos aqui com você um pouquinho?'”, sugere Patrícia Serejo, psicóloga da Super Infância, clínica de Brasília especializada em atendimento a crianças.
Desde que os pais demonstrem segurança, embarcar na fantasia também pode ser uma opção. Tem um monstro no armário? Deixar a criança correr para sua cama pode ser mais fácil, mas significa admitir que existe mesmo uma criatura no guarda-roupa. É melhor ajudar a criança a encarar o medo do que a fugir dele. Pegue seu filho pela mão, olhe o armário e diga que, por precaução, vocês vão trancá-lo – assim, se o monstro aparecer no meio da noite, vai ficar preso ali. Amenizar o medo infantil usando a própria imaginação da criança como antídoto pode ser uma boa saída. Assim como ler livros infantis com histórias de monstros que são vencidos por um herói ou os tradicionais contos de fadas, em que sempre há o lado ruim da história e o lado bom e corajoso.
Quando procurar ajuda?
Nem sempre é possível, ainda que com o apoio dos pais, tranquilizar uma criança que está sofrendo com temores excessivos. Nesse caso, é preciso procurar ajuda profissional. “Quando o medo for intenso a ponto de gerar um sofrimento grande na criança, ou quando ela estiver perdendo contato social, escolar ou lúdico por causa dos medos, procure um terapeuta”, diz Patrícia.
A linha que separa um medo natural de uma fobia permanente varia de criança para criança. O importante é observar mudanças bruscas de comportamento. Problemas físicos recorrentes, mudança de humor ou desinteresse por atividades que anteriormente eram exercidas com prazer podem indicar que o temor passou dos limites.
Quando a rotina da casa e de seus moradores precisa ser modificada, também é hora de procurar ajuda. “Se a criança precisa dormir com os pais todos os dias, passa a interferir no relacionamento do casal”, exemplifica Bruno. Isso é um claro sinal de que a solução não cabe mais somente a eles.
FONTE: http://delas.ig.com.br/filhos/medos-infantis-como-lidar/n1237561052698.html