O ciúme ainda é um termo com vasta abrangência de definições e interpretações de seus significados. Há quem entenda o ciúme como uma emoção natural (ou até benéfica) por assumir um papel de sentimento protetor de relações; porém, há quem defina como insegurança e imaturidade em um relacionamento ou até mesmo como medo que a pessoa sente em perder a importância que detém na vida do outro.
Ainda que sem demarcações teóricas totalmente unânimes, refere-se que todas as definições de ciúme têm em comum três aspectos: o fato de ser uma reação a uma ameaça percebida; o fato de haver um rival real ou imaginário e a reação de visar a eliminação dos riscos da perda da pessoa amada.
Majoritariamente vivenciamos o ciúme associado a relacionamentos amorosos, mas é importante destacar que esse conceito está presente no dia a dia das pessoas e nos diversos relacionamentos interpessoais estabelecidos, nomeadamente no seio da família, no trabalho, nas relações de amizade, entre outros. Estudos já comprovam também que sua presença independe de idade, cultura ou gênero sexual, o que difere é a maneira como se ele apresenta em cada um dos casos.
Na tentativa de distinguir o ciúme normal do ciúme patológico pode-se entender que o ciúme normal seria aquele baseado em fatos, enquanto o patológico procura fatos e/ou sofre influência de delírios. Enquanto o ciúme natural ocorre em função de uma ameaça real, o ciúme mórbido persiste a despeito da ausência de qualquer ameaça real ou provável.
Assim, o ciúme exagerado é uma reação complexa porque se forma por um conjunto de pensamentos (culpa, comparação com o rival, preocupação com a imagem); emoções (dor, raiva, tristeza, medo); reações físicas (taquicardia, falta de ar, aperto no peito…) e comportamentos extremos ou intoleráveis (questionamento constante, busca intermitente de confirmações, possíveis ações agressivas ou violentas). Nos casos de predominância do ciúme romântico, ou seja, aquele presente especificamente no contexto amoroso, o tema predominante é a preocupação com a infidelidade do parceiro sexual, sem base de evidências reais.
Na psicopatologia, o ciúme ainda não é visto como um transtorno independente, por isso, é comumente apresentado como uma variação ou sintoma de outros quadros neurológicos como: o transtorno delirante tipo ciumento, o alcoolismo crônico e o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), visto que pensamentos de ciúme podem ser vivenciados como irracionais, excessivos ou intrusivos podendo a levar a comportamentos compulsivos como os de verificação.
A perturbação do ciúme se manifesta através da união de diversos sentimentos como raiva, rejeição, possessividade, ansiedade, culpa, inferioridade, angústia, remorso, humilhação, vergonha, depressão, imagens intrusivas, insegurança, rituais de verificação, desejo de vingança, baixa auto estima, medo de perder o parceiro para um rival e desconfiança excessiva e irracional, gerando significativo prejuízo no funcionamento pessoal e interpessoal do indivíduo. Além disso, o potencial para atitudes violentas nos indivíduos que sofrem de ciúme patológico também é destacado.
É importante que o ciumento saiba se colocar no lugar do outro imaginando o quanto dói ser acusado de algo em que existe a certeza da inocência; confiar mais em si mesmo valorizando suas virtudes e qualidades; recuperar a autoestima (que, possivelmente, já é quase ausente) e iniciar e se manter um tratamento psicoterápico enquanto os sintomas forem presentes.
Assim, a busca de ajuda terapêutica possibilita uma avaliação mais qualificada do contexto do paciente e permite que haja encaminhamento para uma avaliação médica e psiquiatra caso seja necessária intervenção medicamentosa para maior controle da ansiedade e dos pensamentos obsessivos. Muitas vezes, através das razões indicadas pelo paciente acerca de seu ciúme, é possível identificar a lógica do seu raciocínio, evidenciando-se que, no lugar dele, outra pessoa possivelmente também sentiria ciúme.
A terapia cognitivo comportamental (TCC) se destaca nesse meio sendo referência em resultados eficazes nesse processo. É a abordagem psicológica atual com mais evidências científicas de efetividade na mudança de atitudes prejudiciais e mantém seu foco voltado para a identificação e reparação de padrões de pensamentos disfuncionais pelo levantamento de hipóteses que serão confirmadas, ou não, no decorrer do processo. Dentro do contexto de quem sofre com o ciúme patológico ou exagerado, que repercute nos padrões de comportamento baseados em pensamentos disfuncionais, a TCC é capaz de atuar modificando crenças e desadaptações desses pensamentos, além de auxiliar na busca por autocontrole, melhoria na autoestima do paciente e consequente construção de relacionamentos interpessoais saudáveis.
Nos casos de ciúme romântico é possível trabalhar através de terapias individuais e ainda em terapias de casal. Nesse momento, a possibilidade da terapia de casal surge a fim de facilitar o processo terapêutico quando o ciúme está focado no parceiro que não aceita a doença e terapia do cônjuge, além de potencializar a relação do casal que pode se tornar amplamente desgastada, interferindo em direitos e deveres de cada um e principalmente no respeito entre os mesmos.
Uma variedade de técnicas dentro da TCC pode ser adaptada e aplicada a casos de ciúme grave. Treino de assertividade e comunicação, inversão de papéis, exploração de domínios de exclusividade, intervenção comportamental nas interações e re-nomeação do ciúme, por exemplo, são estratégias que podem ser exploradas dentro da terapia nesses contextos.
Concluindo, torna-se notável a enorme influência que essa problemática exerce sob os indivíduos que apresentam seus sintomas e o consequente sofrimento deslocado às vítimas, cônjuges e até mesmo família envolvida. É de terminante importância que o sujeito determinado a extinguir os sintomas e possíveis avarias busque por profissionais que o auxiliem no processo garantindo maior eficácia no tratamento e evitando supostos danos futuros, como o rompimento de uma relação ou atitudes de violência contra o parceiro no caso do ciúme romântico, por exemplo.
A terapia propicia o crescimento de estratégias para o controle do ciúme excessivo e potencializa-as, a fim de suprir, mais efetivamente, as necessidades dos ciumentos, aliviando seus sintomas e diluindo seus sofrimentos.