Os preparativos relacionados à cerimônia, o vestido de noiva, a festa, o sentimento que envolve o casal, o desejo de sair da casa dos pais e ter sua própria casa e ‘independência’, os sonhos e planos para o futuro entre eles os de ter filhos e a lua-de-mel, representa um momento cheio de expectativas e ansiedades para o casal, um momento mágico que se iguala a de um conto de fadas. No entanto todo esse festim esconde ou, melhor dizendo, passa despercebida a dependência emocional que ainda se tem em relação aos pais, sobretudo, da mãe, por ainda não ter acontecido o necessário “desmame” entre um dos parceiros ou mesmo de ambos, a todas as facilidades, conforto e mimos que mamãe e papai davam.
O casal ao retornar da lua-de-mel depara-se com uma estranha sensação de que todo aquele momento mágico que mobilizou o casal para um único objetivo, a saber, o casamento, acabou. Momento esse que a fantasia dos preparativos se finda e a realidade do casamento e de uma vida a dois se apresenta, demandando um novo objetivo e um bom projeto de vida. Essa sensação de estranheza pode deixar o casal por algum momento numa certa condição flutuante, fazendo emergir a seguinte pergunta: “E agora, o que fazer?”
O casamento ou uma vida co-relacionada à de casado exige um pensar no plural sem que seja restringida a singularidade de cada parceiro e uma co-responsabilidade dos atos. No entanto, o que se observa em muitos casos é que, um dos parceiros ou mesmo os dois buscam a mesma dinâmica de liberdade que tinham quanto solteiros, focando o que melhor lhe apraz, o desejo e a satisfação próprios, individualizados, ou seja, vive-se uma relação que ao invés de ser compartilhada a dois, é uma relação extremamente narcisista.
Os primeiros dias, meses e anos de uma vida a dois se constituem em uma fase de apresentação e muito diálogo, flexibilidade e adaptação, sobretudo, de co-responsabilidades. Será nessa fase que se experimenta a tolerância em relação a comportamentos que não se apresentavam tão nitidamente no namoro; ou porque o período de convivência não permitiu, ou porque estavam encobertos pela venda da paixão. Será nesse período que deverá existir a confluência dos Eu’s, ou, seja, um Eu menos individual e narcisista cede lugar para um projeto de vida a dois. A intolerância representa justamente o contrário, assinalando para um indivíduo preso a um narcisismo primário e despreparado emocional para uma convivência do porte.
A mulher que se casa não deixa de ser filha, mas o lugar que antes ela ocupava não é mais o mesmo, ou seja, ela não se encontra mais ocupando o berço esplêndido da mamãe e nem do papai. Tal condição também se remete ao homem. Quando se casa de certa forma se vive o luto da fase de solteiro e daquela identidade para celebrar a fase que se inicia. A mulher ao sair da casa do pai deixa de ser a filha e a irmã para ser a esposa do marido; já o homem passa a ser marido, compartilhando com a mulher as demandas dessa nova vida. Trocando em miúdos, as facilidades e o conforto que encontravam na casa dos pais devem se tornar boas recordações de uma época que acabou, pois a nova realidade requer uma demanda de construção e crescimento a dois. Dentre a demanda de construção está a manutenção do amor, que precisa do cultivo e da compreensão, da atenção e disponibilidade recíproca.
Quero chamar atenção para um aspecto que pode decorrer de uma forte expectativa por parte de um parceiro em relação ao outro. Excesso de expectativa pode sinalizar para uma condição de dependência emocional. A carência por parte de um dos parceiros aumenta a tendência de uma baixa autoestima, podendo levar a comportamentos de insegurança, de imaturidade ou de egoísmo que geram cobranças, brigas e desgaste logo no início da relação. A quebra daquilo do que se esperava no parceiro provoca uma frustração que reaviva a carência pela qual a pessoa foi marcada na dinâmica edipiana, podendo levá-la a um estado de tristeza persistente, ou seja, a uma depressão. O que antes era um sonho se esbarra na realidade e no desencanto.
A depressão nos primeiros dias de casado é consequência de vários fatores dentre eles o emocional e o psicológico, podendo atingir homens como mulheres a depender do perfil da personalidade de cada um e da intensidade de idealização e expectativas que se tem do casamento. Mas ao salientar o aspecto histórico e cultural de nossa sociedade, a depressão pós-casamento torna-se mais uma realidade do público feminino do que do masculino, isso porque, mesmo que se escute por parte das mulheres um discurso de não querer nada a sério e da prática do ficar sem compromisso, no íntimo elas ainda sonham com seus príncipes encantados – síndrome de cinderela – e esperam que tudo seja maravilhoso, por isso elas acabam sofrendo mais quando algo não está da forma que sempre imaginaram.
Os fatores externos como o econômico e o social também são observados, como por exemplo, intensas atividades profissionais que exijam muitas horas longe de casa e do parceiro, contribuindo para a solidão do outro e dificuldade financeira que atravessa o casal. No entanto, não adentraremos em tais perspectivas.
Segundo pesquisas, o número de mulheres que se casaram recentemente e que estão sofrendo de depressão pós-nupcial é cada vez maior. Relatos como sentimentos de tristeza, remorso, frustração, desapontamento e vazio é cada vez mais comum. Em contrapartida, existe o discurso da estranheza de se viver tais sentimentos já que se concretizou o sonho de se casar com a pessoa amada depois de tantos planejamentos.
Casar ou compartilhar de uma relação a dois debaixo do mesmo teto, sobretudo, quando esta é a primeira experiência do gênero, não é nada fácil nem para a mulher e nem para o homem. A etiologia da palavra “Compartilhar” compreende: “dividir com”; “partilhar com”; “distribuir”, “repartir ou compartir”. Portanto, é isso que os recém-casados devem fazer, ou seja, estreitar ao máximo o diálogo na tomada de qualquer decisão e comportamento. A intimidade entre os parceiros deve ser sempre estreita, a demarcação dos limites respeitada e o amor sempre cultivado. Tais providências poderão evitar precipitações e intransigências que levem ao desgaste da relação e que venha debilitar emocionalmente o casal. Conhecer bem o outro pode amenizar os problemas que surjam na convivência a dois.
O casamento não é a morte dos sonhos, mas um sonho sonhado a dois que não está isento dos percalços da vida, pois até nos sonhos noturnos esse ou aquele sonho pode deixar alguma lembrança angustiante para o indivíduo.
A depressão pós-casamento não chega a ser de fato uma doença, pois na maioria das vezes representa apenas o choque inicial ou uma tristeza ao se deparar com uma realidade nova que representa a vida de casado e, consequentemente, não saber lidar com essa nova situação. No entanto, a persistência de um quadro de desânimo, triste o tempo todo, falta de apetite, desânimo para sair de casa e insônia ou sonolência demais, esse tipo de comportamento corresponde a um quadro de depressão. Agora, o que deve ficar claro, não existindo nenhum outro fator em jogo, como por exemplo, um marido torturador ou coisa do tipo, ou um ambiente familiar ou externo inóspito, o simples fato de casar não provoca depressão, mas se caso aconteça é porque já existia uma predisposição, um antecedente para tal.
FONTE:http://psicologiaparagestantesecriancas.blogspot.com.br/2013/07/depressao-pos-casamento.html