As pessoas que têm uma especial dificuldade em identificar e descrever estados emocionais à medida que estes acontecem, e em distinguir os sentimentos das sensações físicas que os acompanham, são apelidadas clinicamente de alexitímicas.
Na verdade, o conceito de alexitimia, foi inicialmente proposto por Sifneos (1972) que trabalhava com doentes psicossomáticos, sofreu revisões posteriores, e define-se atualmente através das seguintes dimensões:
- dificuldade a identificar sentimentos e em distinguir entre sentimentos e sensações físicas de estimulação emocional,
- dificuldade em descrever sentimentos aos outros,
- imaginação diminuída, e
- estilo de pensamento ligado ao mundo exterior. (Taylor, Bagby e Parker, 1997)
Os “alexitímicos podem ter, com posterior reflexão, uma sensação vaga de que estavam sob o domínio de uma forte emoção” (por ex., uma tristeza chorosa, ou uma ira raivosa) “mas ficam, em geral, perdidos quando tentam perceber o que levou essas emoções a manifestarem-se”. Por outras palavras, “não conseguem imaginar o que estimulou o seu humor, a sua disposição. Quando muito podem ter uma sensação desconfortável de algo que mudou no seu corpo” (por ex., o aumento da frequência cardíaca, o corar ou a sensação de borboletas no estômago), e quando pressionados a descrever os seus sentimentos, “os alexitímicos não têm palavras para oferecer, e podem atrapalhar-se, avançar com um resposta forjada ou simplesmente mudar de assunto.”
É frequente o indivíduo “interpretar erradamente a expressão física da emoção como uma expressão física de doença, por exemplo, as lágrimas no rosto tornam-se, não tristeza, mas um defeito no canal lacrimal; o coração acelerado de paixão, uma válvula defeituosa; ou um aperto de ansiedade no estômago, uma apendicite.”
Para estas pessoas os “estados emocionais podem ser atribuídos a influências adversas de ambiente, como uma mudança no barÔmetro, tóxicos no ar, ou um colchão desconfortável. É como se houvesse um elo perdido que permitiria que à imaginação formar uma imagem da situação emocional para a mente trabalhar”.
É importante uma mais clara compreensão desta perturbação, até porque suscita um deficit comunicacional, de percepção de si e dos outros, com tremendo impacto em toda a esfera relacional (parentalidade, relações conjugais, relações profissionais, etc.), e entender que nestas pessoas as manifestações emocionais surgem muitas vezes travestidas de uma forma somática, e as emoções são geralmente” indiferenciadas, vagas e inespecíficas”. Não deve ser confundida com outras perturbações ( por ex., com a psicopatia/sociopatia, a perturbação de personalidade esquizóide, o estoicismo, e repressão das emoções, a alexitimia masculina normativa, a vergonha e a apatia da fobia social), o que nem sempre é fácil. Também é aconselhável algum cuidado de diagnóstico diferencial, na medida em que subsistem conceitos próximos que se sobrepõem parcialmente a este e co-morbilidades a ter em conta (autismo e síndrome de Asperger, compulsividade obsessiva, perturbações alimentares, perturbações de stress pós traumático, perturbações de personalidade, perturbações depressivas e de ansiedade, perturbações psicossomáticas e abuso de substâncias, doenças e lesões físicas)
Entender as causas (biogénicas ou psicogénicas) desta perturbação tão investigada e tantas vezes associada às perturbações psicossomáticas e doenças físicas em geral, é importante para escolher a psicoterapia mais adaptada a estas pessoas devendo em geral ser orientada para a melhoria do seu bem estar social e psicológico.
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