A tentativa de controle sobre o mundo, por parte do ser humano, é algo percebido em diferentes contextos e áreas da vida. Sendo assim, não poderia ser diferente em relação às rotinas, relações afetivas e expectativas do futuro; de forma que regras preestabelecidas trazem a ideia de previsibilidade sobre os eventos, e consequentemente maior controle sobre eles.
Porém, nem sempre os fatores envolvidos nas situações podem ser controlados ou mesmo previstos, ressaltando a percepção de vulnerabilidade e instabilidade naqueles mais ansiosos. Sendo a ansiedade uma emoção ativada toda vez que há a necessidade de se precaver ou se preparar para uma situação com certo grau de risco, ela estará sempre presente nas interpretações de futuro ameaçador ou incerto.
Ao encarar os eventos que não são passíveis de controle total, o ser humano pode criar estratégias enganosas, que passam a ideia de previsibilidade, mas na verdade só aumentam o estado de alerta e ansiedade. Essas estratégias podem ser percebidas através da observação das regras predefinidas e o grau de rigidez com que a pessoa encara essa regra, impossibilitando quaisquer mudanças que fujam a sua previsão. Contudo, como já citado, muitos fatores não estão amarrados nessas regras e, por vezes, o evento ocorrerá de forma não contemplada por elas, causando maior angústia e ansiedade em quem as adota sem flexibilidade.
O que muitos estudos em psicologia têm mostrado é que grande parte do sofrimento psicológico está relacionado à dificuldade em aceitar a parcela do evento que não pode ser controlada. O excesso de regras e o gasto de energia psíquica envolvida no processo de alerta e controle dos eventos imprevisíveis acabam por sobrecarregar cognitivamente e emocionalmente a pessoa, criando ideias polarizadas de impotência ou superpotência frente ao mundo, dificultando a percepção do que de fato pode ser controlado.
O processo de aceitação de eventos e emoções indesejados, porém não controláveis, se dá pela consciência de que não estão sob seu comando. Contudo, podem ser vistos de maneiras alternativas, e ainda assim a vida segue em seu propósito, comprometendo o quanto menos a qualidade de vida e tomadas de decisão.
O controle necessário para o processo de adaptação e sobrevivência no mundo passa pela percepção do que pode ser controlado e de como manter o sentido da vida apesar dos eventos ruins. A partir do instante que a aceitação desses momentos se une ao compromisso de continuar enfrentando e dando propósito às escolhas tomadas, mais seguro e confortável torna-se esse processo.
Sentir-se seguro para lidar com o imprevisível aumenta a motivação e diminui o sofrimento mental. A principal ferramenta para a construção dessa segurança está na flexibilidade cognitiva, ou seja, o inverso da imposição rígida de regras que não abrange todos os movimentos possíveis dos fatores relacionados aos eventos. Nos casos em que a flexibilidade está comprometida, e torna-se muito difícil sair desse ciclo, a ajuda profissional pode ser necessária.