Tricotilomania é o impulso urgente e irreprimível da pessoa arrancar o próprio cabelo ou pelos, seja do couro cabeludo, cílios, sobrancelhas, barba ou outras partes do corpo. É um tipo de transtorno compulsivo, como o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e embora a pessoa saiba que o que está fazendo não é certo, ela não consegue se controlar e continua puxando e arrancando fios de cabelo.
O problema é mais comum – e perigoso – do que parece. Acredita-se que até 4% da população pode ser afetada, sendo as mulheres quatro vezes mais propensas a desenvolver o quadro do que os homens.
Não se sabe exatamente que fatores interferem no surgimento da tricotilomania. Algumas pessoas manifestam o comportamento desde crianças, outras passam a arrancar os fios após algum acontecimento importante, estressante ou traumático. Acredita-se que fatores genéticos também possam ter alguma influência no surgimento do distúrbio, assim como alterações naturais nas reações químicas do cérebro que envolvem a serotonina e a dopamina.
Apesar das associações frequentes com stress e ansiedade, em grande parte dos casos o comportamento aparece em situações entediantes ou de forma “automática”, como um hábito, sem muita atenção dirigida ao que se está fazendo (os fios são puxados distraidamente enquanto a pessoa estuda, assiste televisão, fala ao telefone ou lê um livro, por exemplo).
Em outras situações o tricotilomaníaco procura por fios dentro de um critério específico (numa área definida da cabeça, com uma textura ou comprimento determinados, que pareçam arrepiados ou fora do lugar, que sejam brancos ou mais claros/escuros que os demais). Muitas pessoas dizem sentir tensão e ansiedade, seguidos por um grande alívio ao arrancar os fios e, mais tarde, culpa por tê-lo feito – o que aproxima o quadro dos padrões observados em um vício.
Normalmente o comportamento se manifesta quando o indivíduo está sozinho, sendo comum também outros comportamentos compulsivos, como roer unhas, mastigar os lábios ou mesmo machucar a própria pele.
O distúrbio é motivo frequente de constrangimento social, seja pelas críticas de familiares e amigos (que muitas vezes não entendem que o comportamento é um distúrbio, e não uma escolha simples e fácil de interromper), seja pelo impacto visual gerado quando as áreas de raleamento ou ausência total de cabelos ficam evidentes. É comum que o tricotilomaníaco tente esconder os sinais usando lenços, chapéus e outros artifícios para cobrir as áreas mais danificadas do couro cabeludo, ou deliberadamente arrancando fios de áreas diferentes da cabeça para distribuir o efeito e torná-lo menos perceptível.
Muitas pessoas “brincam” com os fios arrancados, enrolando-os nas mãos, analisando-os ou levando-os à boca, podendo até mesmo engoli-los. Esse quadro é chamado de tricofagia e pode levar a vômitos, dores abdominais, sangramentos internos e obstruções gastrointestinais severas, que às vezes exigem intervenção cirúrgica e podem até ser fatais se não forem devidamente diagnosticadas a tempo.
Os fios arrancados podem levar de alguns meses até muitos anos para se recuperarem completamente (dependendo do comprimento do cabelo e da velocidade com que ele cresce). Se o trauma causado ao folículo for muito grande (o que pode acontecer especialmente com o arrancamento repetido dos fios durante muito tempo), pode ser que ele pare totalmente de produzir cabelo.
Diagnóstico de Tricotilomania
Não existem exames que determinem se a pessoa tem ou não tricotilomania, no entanto, os critérios diagnósticos presentes no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) são:
- Puxar fios de cabelo repetidamente, o que resulta em perda de cabelo noticiável;
- Tentar repetidamente parar de arrancar fios de cabelo, ou pelo menos querer reduzir o hábito;
- Arrancar fios de cabelo em situações estressantes no trabalho, escola ou outros círculos sociais;
- Perda de cabelo não relacionada a outros problemas de saúde.
Tratamento de Tricotilomania
O primeiro passo para o tratamento é reconhecer o que está acontecendo. O indivíduo precisa aceitar a sua condição e entender que se trata de um comportamento compulsivo, sério e que requer tratamento.
Algumas pessoas tentam controlar o quadro por conta própria, mas é importante dizer que não conseguir parar sozinho não é um fracasso. Controlar um distúrbio apenas com a própria força de vontade pode ser possível, mas muitas vezes é o caminho mais difícil e sofrido. Pedir e aceitar ajuda podem ser os passos mais importantes para que alguém consiga finalmente dominar o problema.
O tratamento considerado mais efetivo atualmente é a terapia cognitivo-comportamental, realizada por psicólogos especializados. Existem vários métodos dentro desta categoria, mas de maneira geral identificam-se os fatores que podem desencadear o impulso de arrancar os cabelos (horas do dia, acontecimentos, sensações, estados mentais, locais específicos, etc) e então são adotadas alternativas para abordá-los, substituindo a resposta automática de puxar os fios por comportamentos inofensivos.
Nos casos mais severos e associados a outros distúrbios é possível buscar tratamento psiquiátrico, com administração de antidepressivos, ansiolíticos e outros medicamentos relacionados, mas na maioria dos casos o tratamento psicológico já apresenta resultados bastante satisfatórios.
Fontes:
http://www.minhavida.com.br/saude/temas/tricotilomania
http://www.chegadequeda.com.br/tricotilomania/
http://www.scielo.br/pdf/rpp/v28n1/v28n1a16.pdf