Sabe-se que a grande maioria dos adolescentes dispendem um tempo expressivo de seu dia (principalmente à noite) utilizando videogames, celulares, internet e eletrônicos de todos os tipos, na intimidade de seu quarto, inclusive quando deitados, o que retarda de maneira significativa a entrada no ciclo do sono.
Já é bem documentado que o sono é vital na manutenção do equilíbrio e do bem-estar, além de ocupar um papel fundamental na consolidação e performance da aprendizagem e da memória.
Veja só: os videogames aumentam de maneira expressiva algumas variáveis metabólicas e fisiológicas, incluindo uma grande estimulação no sistema nervoso central. Diferentemente, por exemplo, de outras plataformas onde se interage de maneira mais relaxada, nos games se registra o aumento dos batimentos cardíacos, da pressão sanguínea, respiração, supressão momentânea de alguns processos digestivos, dentre outros, o que interfere pontualmente na qualidade do sono subsequente. (1)
Algumas concepções entendem que um alto nível de emoções – a exemplo do que é vivido nos jogos virtuais – pode prejudicar, inclusive, o processo de aprendizagem. Como o conhecimento adquirido ao longo do período de vigília ainda está sob consolidação, a intensidade emocional decorrente dessa estimulação noturna pode interferir de maneira significativa na capacidade de nossos jovens. Como os games produzem desafio, surpresas, excitação e, principalmente, a frustração, todas essas alterações são acompanhadas de importantes mudanças fisiológicas.
Estudos de PET SCAN (tomografia por emissão de pósitrons) mostraram uma expressiva liberação de dopamina e norepinefrina durante o uso de videogames, o que, diga-se de passagem, são os mesmos neurotransmissores envolvidos no processo de aprendizagem.
Numa pesquisa com crianças em idade variando entre 10 e 14 anos, evidências demonstraram que apenas uma noite com restrições de sono já seria o suficiente para enfraquecer as funções cognitivas de maneira importante. (2)
Entende-se que durante as fases do sono REM (movimento rápido dos olhos) e do sono de ondas lentas é que se daria a consolidação do processo no qual a memória do cotidiano seria fixada. (3)
Portanto, uma vez que os videogames reduzem a quantidade do sono de ondas lentas, a consolidação da memória fica então seriamente prejudicada. (4)
Além disso, uma vez que mais tempo de frente ao vídeo pressupõe menor tempo destinado às atividades físicas – que tem uma das consequências afetar positivamente as estruturas cerebrais e melhorar as performances acadêmicas (concentração etc) -, estima-se que essa redução poderia também afetar a saúde física ao aumentar o cansaço e reduzir conjuntamente a prontidão atencional dos jovens no dia seguinte.
Conclusão
Por que será então que os problemas na escola e a baixa performance acadêmica estão se tornando cada vez mais frequentes junto aos adolescentes? Apenas decorrente das questões pedagógicas da escola é que não é, correto?…
Os pais deveriam hoje, mais do que nunca, procurar saber o que ocorre na vida digital de seus filhos e, assim, ajudar a zelar por uma melhor qualidade de vida de nossos pequenos.
Não é apenas porque estão na segurança “do quarto” e “entretidos” que as coisas necessariamente estão indo bem.
Pense nisso.
Referências
(1) Wang X, Perry AC. (2006). Metabolic and Psysiologic Response to Video Game Play in 7- to 10-year old boys. Arch Pediatr Adolesc Med, 160:411-415.
(2) Radazzo AC, Muehlback MJ, Schweitertzer PK, Walsh JK. (1998). Cognitive Function Following Acute Sleep Restriction In Children ages 10-14. Sleep, 21:861-868.
(3) Hasselmo ME. (1999). Neuromodulation: Acetylcholine and Memory Consolidation. Trends Cogn Sci, 3:351-359.
(4) Dworak M, DiplSportwiss, Schierl T, Bruns T, Struder HK. (2007). Impact of Singular Excessive Computer Game and Television Exposure on Sleep Patterns and Memory Performance of School-Aged Children. Pediatrics, 120:978-985
Fonte: http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2016/04/11/efeitos-do-uso-excessivo-da-internet-e-dos-videogames-sobre-a-memoria/