A necessidade de controlar os próprios impulsos surge quando nos deparamos com situações em que temos de escolher entre consequências não tão agradáveis a curto prazo para obter consequências mais satisfatórias a longo prazo. Por exemplo, optar por estudar em uma sexta à noite, na iminência de uma prova de vestibular, significa abrir mão de sair com os amigos, mas pode ser o fator decisivo para quem quer conseguir a aprovação. Sendo assim, para atingir as metas de longo prazo, é essencial que se tenha certa renúncia a prazeres imediatos e capacidade de suportar circunstâncias aversivas.
Nesse sentido, quando falamos em autocontrole, nos referimos à capacidade que uma pessoa tem de controlar a si mesmo e o ambiente à sua volta para alterar a probabilidade de se chegar ao comportamento desejado. Assim, deve-se considerar, na tentativa de controle das variáveis que influem no comportamento individual, fatores antecedentes, como, por exemplo, a motivação para seguir o comportamento, e consequentes, como o grau de incômodo que seria gerado pela escolha do comportamento que privilegia a meta de longo prazo.
Portanto, o autocontrole tem como função diminuir a influência da busca do prazer imediato ou da remoção de uma sensação desconfortável, consideradas no momento presente, em prol de objetivos futuros que sejam mais valiosos para o indivíduo. Ainda pensando no estudante que tenta passar no vestibular, essa situação poderia se traduzir na decisão de desligar o seu celular, para que ele não receba mensagens de amigos chamando-o para sair e consiga se concentrar mais nos estudos, uma vez que, assim, os estímulos externos que o influenciariam a deixar o comportamento desejado são diminuídos.
Pessoas que tem autocontrole insuficiente geralmente são mais impulsivas, desatentas, desorganizadas, tem dificuldades de persistir em tarefas tediosas e rotineiras, costumam se atrasar em seus compromissos e um hábito comum é a procrastinação.
É importante ressaltar que o autocontrole não é uma característica inata do indivíduo, mas um tipo de comportamento, que pode, portanto, ser aprendido. Tal comportamento é de especial relevância, não só pela sua valorização pela nossa cultura, mas principalmente por se mostrar como um facilitador de tomadas de decisão efetivas para a obtenção de metas, mesmo em condições onde não haja tanto incentivo.
De forma autônoma, o indivíduo pode desenvolver o autocontrole através de mudanças no tempo e no esforço necessário ao cumprimento de metas. Dito de outro modo, a pessoa pode começar com metas mais fáceis de serem cumpridas, que demandem menos tempo, para que, assim, se acostume, gradualmente, a um comportamento de renúncia em prol de objetivos futuros. Por exemplo, quem faz uma dieta pode fixar como meta ficar uma semana sem comer doces, para, posteriormente, vendo o resultado positivo, se propor a ficar mais tempo sustentando a dieta.
Além disso, o autocontrole também pode ser trabalhado em terapia, tanto na abordagem comportamental, cognitivo-comportamental e da terapia do esquema. Diversas técnicas são empregadas, como o registro e avaliação do comportamento e de suas consequências, o fracionamento de objetivos, estabelecidos de forma realista para cumprimento gradual, e o desenvolvimento da capacidade de definir o momento em que pode haver alguma “recompensa” pelo cumprimento de um objetivo. Através de tais intervenções, pode-se ajudar o indivíduo a avaliar de forma mais eficaz as variáveis que são determinantes para que ele se mantenha firme em seu objetivo e a melhor forma de atendê-las, para que a estratégia em prol do cumprimento de suas metas seja aprimorada.
Uma vez aprendido, o comportamento de autocontrole pode dar ao indivíduo a capacidade de autoanálise, resultando em uma melhoria na independência e na sensação de autoeficácia, sendo, por vezes, um fator essencial a ser trabalhado em terapia, em tratamentos em que haja a necessidade de dar ao indivíduo ferramentas eficazes para o cumprimento de seus objetivos de vida.
Referências consultadas:
ABREU, C. N; GUILHARDI, H. J. Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamental: Práticas Clínicas. São Paulo: Roca, 2004.
YOUNG, J. E.; KLOSKO; J. S.; WEISHAAR; M. E. Terapia do Esquema: Guia de técnicas
cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008