Sabe aquelas mentirinhas inocentes que estão presentes no dia-a-dia? Esse tipo de mentira acontece a todo momento desde que nascemos. Aprendemos assim que elas são permitidas e até divertidas. As histórias que nos contam sobre nós estão repletas de detalhes que as tornam mais atraentes e idealizadas como por exemplo a história da cegonha ou a personificação das estrelas (“Aquela estrelinha lá é a vovó que olha por nós…”).
Porém, vamos crescendo e dar umas desculpas vai se tornando um hábito até fazer parte da rotina. Falar que está muito ocupado quando não quer ouvir alguém ou aumentar uma história para torná-la mais atraente aos ouvintes são alguns exemplos do que acontece de forma tão automática que nem levamos em conta que isso seja uma mentira. Mentiras para não magoar, para preservar alguém, para se preservar… Até aqui, o que temos são mentiras que não têm grandes consequências apesar de sua característica inegável de estarmos faltando com a verdade, o que não é nada bom!
A mitomania, que está no outro oposto, é um transtorno psicológico em que a pessoa mente compulsivamente pelo simples fato de mentir. O mitomaníaco, apesar de saber que está inventando, defende suas histórias como se fossem verdades, como se acreditasse em suas mentiras defendendo-as com convicção até que acreditemos nelas. A mitomania tem a função de autoproteção. Essas pessoas vivem criando situações e querendo obter vantagens apoiadas em invenções, mas não são somente histórias fabulosas e grandiosas, podem ser mentiras pequenas, aparentemente inocentes. Quem sofre da mentira patológica acaba se perdendo em suas próprias narrativas podendo chegar num ponto em que determinadas situações fogem de seu controle devido ao emaranhado de histórias inventadas. Perceba que é diferente do delírio em que o delirante acredita na sua fantasia.
Alimentar mentiras faz com que esta pessoa se sinta bem e aceita. Muitas vezes é preciso criar um mundo pois a realidade está insuportável e o caminho para a aceitação de si mesmo e dos que estão ao seu redor é sempre a fantasia. A crença de que só existe conquista baseada na mentira o angustia ao mesmo tempo que alimenta este comportamento patológico.
Apesar destas pessoas terem um padrão socialmente aceito já que suas fábulas inicialmente atraem com histórias cheias de adereços, as mentiras não se sustentam. A manipulação de situações em seu benefício ou em detrimento dos outros, a fuga da realidade e da responsabilização trazem a presença intensa e constante da mentira para as falas do mitomaníaco, o que vai se tornando evidente para os mais próximos. Vão sendo criadas cada vez mais mentiras dentro de uma mesma história o que pode fazer com que o mentiroso patológico se perca em suas próprias mentiras ou que elas se tornem discrepantes em relação à realidade, porém quando essas pessoas são descobertas ou suas histórias postas à prova, não ficam constrangidas.
O ideal é que não se confronte o mitomaníaco e sim convença-o a buscar ajuda. A mitomania pode ser acompanhada de depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, além de transtorno de personalidade. O tratamento envolve medicamentos caso o médico diagnostique algum transtorno associado e a psicoterapia para que este indivíduo se reestruture e ressignifique suas crenças.