O cenário dos relacionamentos conjugais vem passando por um aumento significativo no número de divórcios e separações. Diversos são os fatores responsáveis por este acontecimento que pode impactar a saúde psíquica dos parceiros.
A ideia que cada um dos companheiros leva para o relacionamento, suas expectativas e crenças formadas ao longo da vida, influenciam a convivência a dois, muitas vezes de modo prejudicial.
Quando duas perspectivas diferentes acerca de um mesmo assunto se encontram, é natural a existência de discordância e o casal precisa encontrar a melhor solução para lidar com este fato que, não necessariamente, é um problema, a fim de que as duas visões se somem formando uma nova perspectiva enquanto casal.
Conforme a terapia cognitivo-comportamental, mais especificamente o modelo cognitivo de Beck, fatores cognitivos, emocionais e comportamentais têm influência direta no estilo de vida e na qualidade das relações interpessoais. Estes fatores muitas vezes encontram-se distorcidos da realidade e tornam-se disfuncionais, causando prejuízos em várias esferas da vida.
Nos relacionamentos conjugais isto não é diferente. Uma vez que o processamento cognitivo de cada um dos parceiros é influenciado por seus esquemas e seus sistemas de crenças, suas interpretações e respostas emocionais e comportamentais podem se manifestar de maneira desproporcional gerando conflitos.
Padrões distorcidos de interpretação da realidade, o que chamamos de distorções cognitivas, tais como a leitura mental e a atenção seletiva, acontecem constantemente.
Nestes casos, é possível ilustrar com alguns exemplos como uma pessoa que pede ao marido que realize determinada tarefa e o mesmo não a faz naquele exato momento, pois já está ocupado com outra coisa, mas imediatamente a mulher pode ter o pensamento automático de que ele nunca atende aos seus pedidos, sem perceber o motivo real pelo qual o marido não a atendeu naquele momento, bem como esquecendo-se de todas as vezes em que o companheiro se mostrou prestativo.
Do mesmo modo, um homem que possui a crença de que não pode ser amado, perturba-se diante de uma situação em que não encontra a atenção desejada de sua parceira que acaba de chegar do trabalho e pensa que, se não recebeu a atenção esperada, logo não é amado e diante disso reage dando respostas ásperas, sendo incapaz de perceber o cansaço daquela que acabou de chegar.
No nível das emoções, sentimentos prevalentes de tristeza, raiva e insatisfação, entre outros, tendem a influenciar negativamente o relacionamento, provocando cognições e comportamentos disfuncionais. Com raiva, uma situação pequena, aparentemente sem importância, pode ser interpretada de forma exagerada resultando em expressões agressivas.
Quanto aos comportamentos que interferem na qualidade das relações conjugais, os problemas na comunicação são apontados como um dos mais prejudiciais. Sabendo que a premissa básica da comunicação é saber ouvir quando o outro fala, ela não deveria ser algo difícil nos relacionamentos, mas acontece que muitas vezes é deficitária e vem permeada por alguns pontos gatilhos para maus entendimentos, como aborrecimentos e discussões constantes, bem como pela interpretação errada daquilo que está sendo falado.
Falta de habilidades de comunicação pode gerar grandes danos ao casamento.
Considerando todos estes fatores, o casal que os identificam em suas relações, percebendo que são relações conflituosas, deve conscientizar-se da busca de ajuda a fim de melhorar o relacionamento e evitar o surgimento de transtornos psíquicos como a depressão e a ansiedade.
A terapia cognitivo-comportamental é considerada de grande utilidade e muito eficaz para casais em desarmonia, pois concentra sua ação em cada um destes elementos e em suas interações, visando uma reestruturação dos processos de pensamento e outras cognições inadequadas, o melhor manejo das emoções e dos comportamentos disfuncionais como a comunicação e a busca de estratégias adequadas de resolução de conflitos.