Generalizamos quando atribuímos características e qualidades de um objeto, evento ou pessoa, a todos os próximos ou similares, desconsiderando suas particularidades. É muito comum questionarmos e criticarmos as generalizações que fazemos corriqueiramente, em diferentes áreas: âmbito social, profissional, artístico, etc. Mas se sabemos os erros que podemos cometer quando generalizamos, porque é tão difícil não generalizar?
Estudos sobre o funcionamento cognitivo e as formas como o ser humano processa informações do meio, bem como responde a ele, definem algumas características de funcionamento desse mecanismo. Podemos entender que durante nossa interação com o mundo, mapeamos algumas informações e experiências, classificando-as e organizando-as para que possam nortear o futuro. A estrutura descrita traz um aspecto evolutivo importante, uma vez que o ser humano é capaz de programar ações e reações futuras a partir de esquemas e mapeamentos de conhecimentos que ele acumula sobre alguns eventos, objetos e conceitos. A organização cognitiva envolve informações de situações vivenciadas, mas também aprendidas a partir de crenças sociais, e daí criamos uma visão sobre mundo, nós mesmos e o futuro.
A generalização pode ser entendida então como consequência da ativação de esquemas e organizações cognitivas diante de determinado estímulo, permitindo assim que possamos responder de forma mais rápida e eficiente a ele. Para exemplificar isso, podemos pensar em uma pessoa que tenha experimentado traições em seus dois primeiros relacionamentos, e a partir de então começa a não se envolver mais afetivamente, entendendo que estará vulnerável a novas traições, generalizando sua experiência.
Contudo, nosso processamento de informação nos traz também uma habilidade importante, que podemos chamar de flexibilidade cognitiva, capaz de alterar essa organização e mudar, portanto, de estratégia e construir novas percepções sobre eventos e pessoas. Além disso, temos ainda a capacidade metacognitiva, de consciência das nossas próprias percepções, aumentando nossa crítica e potencializando a autonomia sobre essa relação com o mundo.
Dessa forma, podemos destacar que generalizar é fundamental para nos adaptarmos e sobrevivermos no mundo, enquanto mecanismo automático e essencial de processamento de informação. Porém, ele não funciona sozinho, faz parte de um conjunto de mecanismos que se regulam e devem estar associados para reestruturar e reavaliar o meio de acordo com suas variações, fazendo com que o ser humano não fique preso a uma única percepção já construída, mas possa alterar e reavaliar de acordo com as informações que recebe do ambiente. Isso permite que consigamos diminuir erros de interpretações e julgamentos, a fim de aumentar nossos comportamentos mais funcionais e diminuir julgamentos errôneos e consequentemente reações falhas.
Sendo assim, para diminuir impactos negativos de generalizações automáticas que atravessam nossos julgamentos, no convívio social, nas relações profissionais e até mesmo nos rótulos que atribuímos a nós mesmos, devemos estar atentos e potencializar nossas habilidades de flexibilidade cognitiva e percepção crítica dos pensamentos e análises que fazemos no dia a dia. Muitas vezes o processo de terapia, e até mesmo outros métodos que estimulem essas habilidades, auxiliam na potencialidade analítica e mudanças nos esquemas cognitivos de interpretação.