Existe muita desinformação sobre o Borderline e isso faz com que a vida de quem sofre desse transtorno seja ainda pior. É preciso mudar essa situação, e para isso é necessário que existam mais materiais, como esse texto,para introduzir essa questão e ajudar as pessoas que sofrem ou conhecem alguém que possa sofrer, a identificar, perceber e como proceder para lidar com esse transtorno.
Imagine. Aquele dia de sol, tempo quente e ensolarado, sem nuvens e você está em um lugar sem sombra. Os raios de sol batem na sua pele e você sente calor naturalmente. Então você decide beber uma água gelada, por isso coloca algumas pedras de gelo. Com muita sede você toma uma grande golada e sente uma pedra de gelo entrando na sua boca. Gelada, na temperatura certa para te refrescar nesse dia tão quente. Agora, imagine que você tem um machucado na boca. Ele está muito sensível e dolorido, qualquer objeto sólido que o toque irá lhe causar dor. De repente, o que era para ser relaxante torna-se uma forma de tortura. Cada movimento do gelo na sua boca lhe causa dor e desconforto. E, como os machucados na sua boca não estão visíveis aos outros, as pessoas te olham perplexos enquanto você reclama e fala que está incomodado com aquilo, todos dizem: “Nossa, mas que frescura! Porque não relaxa e se refresca como todo mundo?”
Esses “machucados” fazem parte da vida, muita vezes sofrida, de quem tem o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Essas pessoas têm “machucados” que as deixam mais sensíveis às emoções, o que proporciona a sentirem de maneira mais exacerbada as emoções e percepções de estímulos externos (dor, calor, estresse, etc). Entretanto todos a sua volta insistem que essas pessoas são apenas exageradas, dramáticas, que não deveriam se sentir assim ou reclamar/falar tanto. Só que com isso diminuem o valor dos seus sentimentos e assim, as deixam confusas e segregadas, por se sentirem diferentes.
A união desses dois lados da mesma moeda – uma maior vulnerabilidade do corpo a emoções e um ambiente que não reconhece o seu sofrimento na mesma intensidade em que a pessoa o sente – faz com que seja muito difícil para alguém que sofre com o transtorno conseguir regular suas emoções de maneira saudável. Logo, sem esse equilíbrio emocional a pessoa passa a viver nos extremos, em oposição quase que diária. De um lado a pessoa acaba concordando com a opinião dos outros e passa a reprimir as próprias emoções. No outro, quando não dá mais para esconder, pois não suporta mais o silêncio ou confusão de sentimento, ela acaba perdendo o controle passa a gritar por socorro da maneira que pode. O que normalmente vem com gritos reais, atos impulsivos e comentários críticos sobre os outros e o mundo, o que só afasta e dificulta o seu convívio social.
Viver assim é cansativo. Sem se sentir compreendida. Sem poder se expressar sem se machucar ou aos outros. Sem saber como lidar com as situações e os próprios sentimentos. Não é de se estranhar que, às vezes, mesmo rodeada de amigos, a pessoa acabe se sentindo sozinha, isolada e acaba tendo medo de ser abandonada. O que a deixa ainda mais insegura e desequilibrada.
A pessoa que sofre deste distúrbio, precisa buscar ajuda profissional, para que consiga reconhecer e validar suas emoções, assim como regular de forma mais efetiva. O indivíduo necessita de ajuda para aprender a construir relações interpessoais (família, amigos, relacionamentos) protegendo-as das próprias oscilações de humor que podem vir a ocorrer.
Tanto para quem sofre, quanto para as pessoas que amam quem sofre desse transtorno, é preciso acreditar que existe controle, existe melhora. A ajuda profissional de um psicólogo, ou psiquiatra em casos mais graves, ajudará o indivíduo a criar mecanismos de enfrentamento, controle, percepção, entre outras ferramentas para que consiga lidar e entender seus sentimentos. O primeiro passo é acreditar que é possível construir uma vida equilibrada, o segundo é buscar ajuda.