A Depressão Major é também conhecida por depressão unipolar, como referência à presença de apenas um pólo, ou humor extremo, neste caso o depressivo, por oposto à depressão bipolar, composta pela alternância entre humor depressivo e mania (euforia, intensa agitação e actividade).
As pessoas reagem de formas diferentes na depressão major. Algumas apresentam dificuldades de sono, perdem peso e sentem-se genericamente agitadas e irritáveis. Outras podem dormir e comer em excesso e sentirem-se sem valor e dominadas por sentimentos de culpabilização. Ainda outras podem estar aparentemente bem, funcionarem bem no trabalho e aparentarem bem-estar em situações sociais, enquanto, lá no fundo, se sentem verdadeiramente deprimidas e sem interesse pela vida. Não existe uma forma única de viver a depressão – no entanto, a maior parte das pessoas fica dominada ou por um humor depressivo ou por uma perda generalizada de interesse nas actividades que anteriormente a interessavam, ou por uma conjugação destes dois aspectos. Além disso, apresentam outros sintomas físicos e mentais que podem incluir fadiga, dificuldades de concentração e memória, sentimentos de impotência e desespero, dores de cabeça, dores no corpo e pensamentos suicidas.
Nos adultos, a depressão major afecta duas vezes mais mulheres do que homens. Em ambos, é mais comum na faixa etária dos 25-44 anos, sendo mais provável afectar pessoas na casa dos vinte anos, ainda que a idade dos primeiros sintomas tenha vindo a diminuir ao longo do tempo. Nas crianças, a depressão clínica afecta uma proporção idêntica de rapazes e raparigas. Ao longo de toda a vida, a depressão irá afectar 10 – 25% de mulheres e 5 – 12% de homens. Em qualquer momento que se observe a população, 5 a 9% das mulheres e 2 a 3% dos homens estarão deprimidos. As pessoas com um dos pais ou irmãos que tiverem sofrido de depressão major têm 1,5 a 3 vezes mais probabilidades de vir a sofrer da mesma perturbação.
Para aqueles que têm episódios recorrentes de depressão major, o curso desta perturbação varia. Algumas pessoas têm crises depressivas separadas por vários anos sem qualquer sintomatologia enquanto outras podem ter períodos ao longo do tempo com vários episódios. Ainda outras podem ter crises depressivas progressivamente mais frequentes à medida que envelhecem. Alguns estudos têm vindo a identificar que quanto mais episódios depressivos uma pessoa vai tendo, assim vai diminuindo o intervalo entre eles. Além disso o número de episódios depressivos que uma pessoa teve serve como critério de previsão de próximos: das pessoas que tiveram uma única crise, 50 a 60% podem vir a sofrer um segundo episódio de depressão; dos que tiveram dois, 70% pode vir a sofrer um terceiro e 90% das pessoas que tiveram 3 episódios de depressão poderão vir a sofrer um quarto.
Cerca de dois terços das pessoas que têm um episódio depressivo major recuperam totalmente; o outro terço pode não conseguir ultrapassar a crise ou apenas recuperar parcialmente – neste caso, a probabilidade de vir a sofrer de nova crise depressiva major é mais elevada.
Diagnóstico diferencial
1 A pessoa tem um episódio depressivo único:Para se considerar um episódio depressivo a pessoa tem de ter apresentado, pelo menos, 5 dos 9 sintomas abaixo, durante 2 ou mais semanas consecutivas, a maior parte do tempo quase todos os dias, e estes sintomas deverão ter representado uma mudança face ao seu funcionamento anterior. Um dos sintomas tem de ter sido ou (a) humor depressivo (em crianças e adolescentes, pode corresponder a irritabilidade) ou (b) perda de interesse ou prazer, na maioria ou em todas as actividades. c)Uma perda ou ganho de peso significativos (ex: 5% ou mais de alteração no peso ao longo de 1 mês, sem esforço de regime alimentar); pode ser, igualmente, apenas aumento ou diminuição de apetite; nas crianças, este sintoma pode surgir como não ganharem o peso esperado face ao crescimento. d) Dificuldade em adormecer ou permanecer a dormir (insónia) ou dormir mais do que o habitual (hipersónia). e)Comportamento agitado ou lentificado, de uma forma observável para os outros. f) Fadiga ou decréscimo de energia g) Sentimentos de desvalorização pessoal ou de culpabilização elevada (não referente ao facto de estar doente). h) Dificuldades de raciocínio, concentração ou tomada de decisões. i) Pensamentos frequentes sobre morte ou suicídio (com ou sem um plano específico) ou tentativa de suicídio.
Os sintomas não indicam um episódio misto
Os sintomas causam grande perturbação ou dificuldades de funcionamento familiar, ocupacional ou outras áreas importantes
Os sintomas não são causados por abuso de substâncias (ex: álcool, drogas, medicamentos) ou por doença do foro orgânico
Os sintomas não se devem a um processo de luto ou morte de um ente querido, mantêm-se durante mais de 2 meses, ou incluem grande dificuldade no funcionamento quotidiano, pensamentos frequentes de desvalorização pessoal, ideação suicida, sintomas psicóticos ou comportamento lentificado (psicomotricidade retardada).
Não existe outra perturbação que explique melhor a sintomatologia
A pessoa nunca teve um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco (a não ser que tenha sido um episódio causado por uma doença médica ou pela utilização de uma substância química)
Distimia
1 A pessoa tem humor depressivo a maior parte do tempo, quase todos os dias, durante pelo menos 2 anos. As crianças e os adolescentes podem apresentar irritabilidade e basta uma duração de um ano.
Quando deprimida, a pessoa exibe pelo menos dois dos seguintes sintomas:
Comer em demasia ou perda de apetite
Dormir demais ou dificuldades em dormir
Fadiga, falta de energia
Baixa auto-estima
Dificuldades de concentração ou tomada de decisão
Sensação de impotência
Durante o período de dois anos (um para crianças e adolescentes) não existiu nenhum período assintomático.
Durante esse período (2 anos adultos, 1 ano crianças/adolescentes) não existiu nenhum episódio de depressão major
Não existiu nenhum episódio maníaco, misto ou hipomaníaco
Os sintomas não ocorrem apenas na presença de outra perturbação crónica
Os sintomas causam forte perturbação ou dificuldades no funcionamento familiar, ocupacional ou outra área importante.
Estima-se que 10 a 25% das pessoas que reúnem critérios clínicos para um diagnóstico de depressão major, sofreram previamente de distimia.
O desenvolvimento da depressão major pode estar relacionada com algumas doenças orgânicas – cerca de 20 a 25% de pessoas afectadas por doenças oncológicas, acidentes cardiovasculares ou diabetes desenvolvem depressão major durante a doença. A intervenção nas doenças resulta mais complicada quando ocorrem em simultâneo com a depressão e o prognóstico do problema médico é menos positivo, o que faz sugerir fortemente um acompanhamento simultâneo psicoterapêutico, para resolução da depressão.
Frequentemente, outras situações do foro psicológico/psiquiátrico co-existem com a depressão major, como, por exemplo; o alcoolismo e toxicodependência, as perturbações de ansiedade, as perturbações de comportamento alimentar e a perturbação borderline da personalidade.
A gravidade da depressão major é indicada por alguns dados apontam que uma taxa de 15% de suicídio.
Distimia
As pessoas com distimia sentem pouca ou nenhuma alegria nas suas vidas – em vez disso, as suas vidas são bastante sombrias a maioria do tempo. Se sofrer de distimia, é provável que tenha dificuldade em recordar-se de momentos em que se sentiu feliz, entusiasmado ou inspirado, parecendo que esteve deprimido toda a sua vida. Provavelmente, é-lhe difícil ter prazer nas suas actividades ou divertir-se; em vez disso, instala-se a falta de vontade de fazer coisas e a tendência para o isolamento, preocupa-se frequentemente e critica-se por se sentir um falhado. Pode, igualmente, culpabilizar-se, sentir-se irritado, sem energia e ter dificuldade em dormir normalmente.
A distimia é uma forma de depressão, mais suave mas de maior duração, que afecta mulheres duas a três vezes mais do que homens. O diagnóstico aplica-se quando uma pessoa demonstra um humor depressivo durante pelo menos 2 anos. Para ser aplicado a crianças, bastará um ano de duração, e, em vez de tristeza ou humor depressivo, a criança poderá demonstrar irritabilidade. As pessoas com distimia podem parecer medianamente deprimidas de uma forma crónica, a um ponto em que parece fazer parte das suas personalidades. Quando finalmente procuram tratamento, é provável que já sofram de distimia há vários anos, em média 10 desde os primeiros sintomas – como surge precocemente na vida, entre a infância e o início da idade adulta, é habitual as pessoas terem-se adaptado de tal forma que consideram a sua forma de sentir e estar como normal. Este carácter crónico e que afecta o funcionamento normal em muito menor grau leva a que a distimia passe despercebida, frequentemente e, logo, não seja tratada. Quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores as probabilidades de recuperação. No caso das crianças, muito em particular, o diagnóstico e correcto tratamento são fundamentais para prevenir o desenvolvimento posterior de perturbações graves do humor, dificuldades académicas e sociais e, mesmo, o abuso de substâncias mais tarde.
Em qualquer momento, cerca de 3% da população pode sofrer de distimia. Quando existedepressão major na família, há uma maior probabilidade de se sofrer de distimia, e a distimia aumenta o risco de se vir a sofrer de depressão major – 10% das pessoas com distimia evoluem para depressão major.
A distimia surge, por vezes, associada com algumas perturbações de personalidade (evitante, dependente, histriónica, borderline, narcísica) e com o abuso de substâncias. A distimia nas crianças está relacionada frequentemente com perturbações da ansiedade, perturbações da aprendizagem, deficits de atenção e hiperactividade, perturbações de comportamento e atraso cognitivo.