Disfunção Temporomandibular, ou DTM, é o nome utilizado para classificar as doenças que acometem os músculos da mandíbula, e interferem nos movimentos durante a mastigação, deglutição e articulação da fala. As causas de tais disfunções são de origem multifatorial e podem estar relacionadas à fatores estruturais, neuromusculares, lesões traumáticas, degenerativas, ou oclusais, como perdas dentárias, desgaste dental, próteses mal adaptadas e cáries.
O Bruxismo, bastante conhecido pela população no geral, é um hábito parafuncional inconsciente, e por vezes consciente, de ranger, apertar e deslizar os dentes, sem objetivos funcionais aparentes. Ainda que haja relação com fatores genéticos, a causa desse hábito também pode estar envolvida com situações diárias de estresse, tensão, sinais ansiosos, ou a problemas físicos de oclusão e fechamento inadequado da boca.
Por essa razão é importante dar uma atenção especial para a relação da DTM com os fatores psicológicos comportamentais, cognitivos, emocionais e afetivos, uma vez que estes sinais contribuem para o desenvolvimento de algumas manifestações psicossomáticas e até mesmo contribuir para o aparecimento ou agravamento de Transtornos Mentais específicos como Ansiedade Generalizada e Depressão.
A tensão psíquica produz um aumento da atividade muscular que pode gerar espasmos e fadiga, e ainda, aumentar a tendência dos hábitos parafuncionais, como apertamento de lábios, colocação de objetos entre os dentes, apoio de mão na mandíbula, roer unhas, mastigar de um só lado, chupar ou morder o dedo. Assim, o surgimento de uma psicopatologia levanta a hipótese de que a hiperatividade dos músculos da mastigação esteja relacionada não apenas a disfunção da articulação (DTM), mas sim ao estresse emocional diário do indivíduo, traços de personalidade alterados e estratégias disfuncionais de enfrentamento dos problemas. O indivíduo desconta sua raiva, seu estresse, sua tristeza e suas angústias em hábitos comportamentais inconscientes apenas para aliviar a tensão psíquica.
Porém, a Qualidade de Vida desse indivíduo pode acabar sendo comprometida, e se torna comum o surgimento de limitações tanto na interação social, como na comunicação verbal, trazendo ainda alterações no equilíbrio afetivo e cognitivo, e podendo sensibilizar o campo psicológico do paciente, pois essa Qualidade está intimamente relacionada com a forma em que ele se expressa emocionalmente.
O estado de dor possui forte influência na qualidade de vida das pessoas e pode provocar mudanças na rotina, envolvendo faltas no trabalho, problemas de relacionamento conjugal, familiar e amigável, sintomas de insatisfação emocional e modificação na dieta alimentar, além do uso constante de medicamentos analgésicos, que muitas vezes são auto prescritos para alívio momentâneo.
Para um bom tratamento dos sintomas é necessário o acompanhamento multiprofissional, que envolve o dentista, o psicólogo e por vezes o fisioterapeuta, quando a tensão muscular se encontra bastante endurecida e comprometendo o deslocamento da musculatura para atividades diárias.
Quando a abordagem terapêutica não valoriza, logo no início, as alterações emocionais, comportamentais e psicofisiológicas evidentes (depressão, somatização, dependência), a dor será somente amenizada e dificilmente curada, podendo ainda aumentar as necessidades e procura por outros centros de saúde. Por essa razão, o trabalho em conjunto visa promover o alívio dos sintomas físicos e psicológicos, e na maioria dos casos inclui o uso de medicação analgésica, uma vez que a dor orofacial crônica é a principal queixa do paciente.
A abordagem Cognitivo-Comportamental tem sido bem sucedida no tratamento do Bruxismo, uma vez que a psicoeducação auxilia o indivíduo no entendimento de seus hábitos comportamentais e propicia, através de técnicas de distração e estratégias cognitivas, o enfrentamento ativo do indivíduo, melhorias na qualidade do sono e de vida, e ainda aumentam o grau de percepção do comportamento disfuncional.
Com o auxílio do Psicólogo, o paciente tem a possibilidade de identificar e modificar a sua forma distorcida de pensar que interfere tanto no seu comportamento e no seu sentimento em relação ao momento que está sendo vivenciado. Além disso, também é possível construir estratégias e habilidades necessárias para prevenção de recaídas.
Referências Bibliográficas
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