Você consegue lembrar-se de como era fazer um discurso na escola primária na frente de toda a classe? Ou quando entra numa sala cheia de estranhos e tem um surto de auto-foco e ao mesmo tempo fica com a sensação que todas as pessoas estão a observá-lo? Provavelmente a sua boca ficou seca, você sente-se agitado e com uma sensação de borboletas no estômago, enquanto o seu coração vai batendo cada vez mais rápido.
Quer sejamos introvertidos ou extrovertidos, todos nós podemos experienciar esse sentimento de timidez em algum momento das nossas vidas. Socialmente, construiu-se a ideia errada de que só os introvertidos vivem a experiência da timidez, mas isso não é verdade. A timidez tem mais a ver com estar à vontade consigo mesmo, especialmente quando se encontra em situações sociais. Para muitas pessoas, esta condição pode por vezes estender-se até à idade adulta. Talvez você hesite em fazer um telefonema ou abordar alguém para pedir uma orientação. Às vezes isso pode prejudicar mais do que ajudá-lo. Você começa a evitar algumas situações, evita ir a lugares, evita constrangimentos, pode evitar defender a sua opinião por receio do confronto e da exposição.
A timidez pode estar confinada a algumas situações específicas não se tornando incapacitante nem angustiante. No entanto, em determinadas situações, algumas pessoas pouco a pouco vão generalizando os acontecimentos incómodos ao ponto de poderem vir a desenvolver timidez incapacitante e alguns transtornos de ansiedade, como a fobia social e ataques de pânico.
ENTENDENDO A TIMIDEZ
A timidez está enraizada no medo, num medo irracional de falar e ser humilhado ou ignorado. Porque é que algumas pessoas tem tanto medo de falar ou de se expor? Aponto para algumas causas principais como a hipersensibilidade, insegurança, ausência de habilidades sociais e perfeccionismo. Quando você associa falar ou interagir socialmente com angustia, constrangimento e vergonha, provavelmente fará quase qualquer coisa para o evitar.
Infelizmente, a timidez é um enorme obstáculo para o sucesso. Para as pessoas que compartilham esse problema, é importante compreender as causas, trabalhar e esforçar-se para superá-la, desde que sintam que lhe causa prejuízo na sua vida .
AS TRÊS COMPONENTES DA TIMIDEZ
A timidez desenvolve-se em torno de três componentes:
Excesso de auto-consciência. Você está muito consciente de si mesmo, particularmente em situações sociais.
Excesso de auto-avaliação negativa. Você tende a ver-se negativamente.
Excessiva auto-preocupação. Você tende a prestar muita atenção a todas as coisas que está fazendo de errado quando está perto de outras pessoas.
Isto é-lhe familiar? Quando está enfrentando a timidez, você encaixa-se em algum estado de espírito, numa ou mais das categorias acima? Provavelmente sim.
PORQUE SENTIMOS TIMIDEZ?
Todos nós sentimos timidez de formas diferentes e em graus variados. No entanto, apresento algumas razões tipo que podem estar na origem da timidez prejudicial:
Fraca auto-imagem. Isto é especialmente verdade, para algumas pessoas que sofreram na escola algumas experiências negativas de afronta e diminuição de si mesmas. Isso pode ter levado à criação de uma crença negativa de que as suas qualidades pessoais não eram interessantes, ou dignas de admiração. Provavelmente esforçou-se por ser como as outras pessoas (crianças/jovens), resultando num sentimento pejorativo acerca de si mesmo afetando-lhe a auto-estima e auto-confiança.
EXEMPLO:
Júlia: Olhando para trás eu nem tenho certeza se sabia quais eram as minhas virtudes, eu sabia que todo mundo parecia ser uma pessoa mais interessante do que eu, então eu tentei imitá-los.
Ana: Eu pensei em mim como sendo interessante, porque eu era alta, e trabalhei muito duro para manter essa imagem. Foi, claramente, uma falsa imagem em que trabalhei duro para manter. Foi cansativo e eu era extremamente auto-consciente. Mesmo que as pessoas não me vissem como tímida, eu sentia-me tímida na maioria das vezes e com muita ansiedade. Acontece que a grande quantidade de crianças “fixes/bacanas””, têm uma fraca auto-imagem e querem ser como os outros.
Pré-ocupação consigo mesmo. Algumas pessoas quando estão perto de outras pessoas, tornam-se extremamente sensíveis ao que estão fazendo, como se tivessem sido colocados no centro do palco. Isso cria ansiedade e faz com que questionem cada movimento que executam. Fica-se com a atenção auto-centrada, em particular sobre: “O que eu estou fazendo de errado?”. Isto pode causar uma espiral descendente de negatividade.
EXEMPLO:
Júlia: Agregado a uma fraca imagem pessoal, eu pensava que não fazia nada correto! E isso dava início a um ciclo que eu não conseguia sair. O que eu entendo agora é que a maioria das pessoas não estavam olhando para mim da mesma forma como eu olhava para mim mesma.
Ana: Eu também era muito sensível a todos os meus movimentos quando estava na presença de outras pessoas. Os meus sentidos ficavam aumentados, principalmente na forma como eu falava, caminhava, ria, etc. O meu foco estava no medo de errar na frente de outras pessoas, e isso deixava-me muito nervosa. O que eu entendo agora é que todas as pessoas estão tão envolvidas com as suas próprias inseguranças que dificilmente notarão a minha.
Rotulagem. Quando nós nos rotulamos como uma pessoa tímida, psicologicamente sentimo-nos inclinados a viver de acordo com essas expectativas. Podemos dizer a nós mesmos: “Eu sou uma pessoa tímida, deve ser verdade que eu sou tímido. Isto é como eu sou, e este é o modo como as coisas são. “Quando nós rotulamos alguma coisa, essa coisa tem a percepção de ser fixada e, portanto, devemos viver de acordo com as expectativas da rotulagem.
EXEMPLO:
Júlia: Eu era conhecida como sendo uma pessoa tímida, ou uma pessoa tranquila, e essa percepção por vezes aprisionou-me. As pessoas esperavam que eu fosse de uma determinada maneira e eu seguia exatamente isso. Sabendo que as outras pessoas olhavam para mim como tímida, e eu não querendo ser tímida, resultou em grande ansiedade quando estava com essas pessoas. Eu realmente queria me mostrar para os outros quando eu estava à sua volta, mas rapidamente me comportava da forma como os outros me viam.
Ana: No fundo, senti as angústias da timidez, muitas vezes, ainda, quando estou perto de pessoas, as minhas experiências com a timidez manifestam-se de forma incomum, como quando eu estou pedindo comida, quando eu falo com alguém ao telefone, ou falo com estranhos. Eu nunca deixo esse meu lado tímido ser revelado, mas eu experimento a timidez. Nesses momentos, escuto-me a dizer: “Eu sou tímida”.
COMO SUPERAR A TIMIDEZ?
COMO SUPERAR A TIMIDEZ?
A SEGUIR, APRESENTO ALGUMAS FORMAS EFICAZES PARA SUPERAR A TIMIDEZ:
Compreender a sua timidez. Procure compreender como é que a sua timidez se manifesta na sua vida. Com que frequência? Compreender os acontecimentos e estímulos que provocam essa sensação? E em que grau lhe causa incómodo ou prejudica o seu-dia-adia?
Transforme a auto-consciência em auto-conhecimento. Reconheça e perceba que as outras pessoas não estão necessariamente olhando para você. Além disso, a maioria das pessoas estão demasiado ocupadas a olhar para si mesmas e para os seus problemas, objetivos e desafios. Ao invés de olhar para si mesmo pelos olhos dos outros, transporte essa consciência para dentro de si. Tome consciência daquilo que faz e alimenta a sua timidez. Procure dentro de si que tipo de pensamentos, atitudes e crenças tem que possam estar a funcionar como combustível para essa sensação de acanhamento social. O Auto-conhecimento e o desenvolvimento da auto-consciência são o primeiro passo para qualquer mudança ou melhoria de vida.
Conheça os seus pontos fortes. Todos temos qualidades únicas e diferentes maneiras de nos expressarmos. É importante conhecer e aceitar plenamente as coisas que fazemos bem, mesmo que possam divergir da norma. Se todos fossemos iguais, o mundo seria um lugar muito chato.
Tente perceber e/ou encontrar algo em que você seja bom e faça isso. Se identificar as suas forças e virtudes irá aumentar a sua auto-estima e melhorar e reforçar a sua auto-imagem. Isto, irá ainda contribuir para o seu auto-conhecimento. É uma solução a curto prazo, mas vai-lhe dar a confiança necessária para quebrar a barreira auto-imposta de medo.
Tente perceber em que é que essa força e/ou virtude singular lhe dá vantagem. Se por exemplo, você é bom ouvinte e atento aos pormenores, use isso para identificar o que é funcional para os outros, se lhe serve a si também. Pode-lhe igualmente servir para aprender por modelagem, escolha alguém positivo, alegre confiante, e observe como essa pessoa se comporta. Recolha informações que lhe sirvam e se tornem numa vantagem.
Aprenda a gostar e a cuidar de si mesmo. Pratique a apreciação de si mesmo e tire gozo da sua forma de ser e de se relacionar consigo, com os outros e com o mundo. Cuide de si, acarinhe-se, reforce-se e recompense-se, faça coisas que você gosta, dê graças às suas capacidades e habilidades, passe tempo de qualidade. Encontre-se consigo.
Não aja sempre em conformidade. Tentar agradar e encaixar-se no perfil de todas as pessoas é desgastante e aborrecido. Entenda que não há problema em ser diferente. Na verdade, subjacente à exibição pública das pessoas populares, alegres e exuberantes, provavelmente também em algumas alturas das suas vidas confrontam-se com inseguranças, dúvidas, auto-centramento, estranheza e sentimento de desadequação. Aceite a forma como você é, e caso pretenda melhorar algo, arranje uma estratégia para o alcançar. Não se castigue, não se despreze nem menospreze, você não pode querer ser qualquer um. E caso pretenda ser diferente, não tem necessariamente de ser por motivos depreciativos e negativos, mas sim apenas porque quer e deseja isso.
Foque-se nas outras pessoas e interaja com elas. Ao invés de focar-se no seu embaraço quando se encontra em situações sociais, foque-se naquilo que está a acontecer, o que as pessoas dizem, como se comportam, foque-se no prazer que está a retirar ao apreciar o momento. Torne-se interessado em aprender sobre os outros, em retirar proveito das conversas que tem. Você pode tentar pensar algumas coisas para si, enquanto interage com os outros: “O que é que esta pessoa tem que eu gosto?
Alivie a ansiedade através da respiração. A ansiedade e o medo podem ser uma experiência angustiante se você estiver tentando tornar-se mais assertivo a fim de superar os seus receios. Uma técnica simples para aliviar a ansiedade e reduzir a angustia é, fazendo algumas respirações profundas, concentrando-se apenas na sua respiração. Inspire e expire lentamente e de forma profunda (contado: 1,2,3,4), enquanto sente o ar que entra e sai dos seus pulmões. Perceba como isso o deixa mais relaxado e descontraído. Sinta essa sensação e acalme-se. Ao atingir um estado mais calmo, volte a atenção para as suas capacidades e habilidades. Seja positivo e afirmativo na construção dos seus pensamentos.
Aliviar a ansiedade através movimento. Uma maneira de melhor entendermos os sintomas da ansiedade é através da acumulação de energia e consequente bloqueio. Podemos libertar essa energia através da atividade física. Exercícios como correr ou andar ajudam à fluidez de algumas das energias bloqueadas, mas também ajuda à diminuição dos sintomas físicos causados pela ansiedade. Existem na verdade muitos benefícios para a saúde associados à atividade física. Se ainda não pratica regularmente nenhum tipo de atividade física, aconselho-o a ponderar essa hipótese e a procurar esclarecimento acerca do tipo de programa que se encaixa melhor na sua situação. Caso sofra de alguma condição médica, marque uma consulta com o seu médico.
Uma outra técnica efetiva é um exercício derivado das técnicas de relaxamento (scan corporal). Sente-se ou deite-se. Tente ter a percepção total do seu corpo, traga para a consciência cada parte do seu corpo, a partir da cabeça e em direcção aos pés. Mentalmente faça um scan ao seu corpo, tentando identificar algum ponto de tensão, quando identificar, centre-se nesse ponto e reserve algum tempo da sua atenção. Tente contrair ainda mais essa zona identificada e em seguida, relaxe. Contraia e relaxe as vezes necessárias até que sinta alívio da tensão. Continue com a monitorização das zonas tensas, no sentido: Cabeça > Pés. Em cada parte do seu corpo que vai identificando como estando tensa, aperte os músculos dessa zona durante 3-5 segundos e em seguida relaxe. Quando relaxa, expire, isto ajuda a libertar a tensão.
Visualização. Visualize-se “encarnando” os comportamentos e atitudes positivas de uma pessoa confiante e feliz. Este exercício ajuda a moldar a percepção de si mesmo, assim como de forma antecipada prepara-o para enfrentar situações que normalmente lhe causam angustia. Feche os olhos, sente-se num lugar tranquilo, pode colocar uma música relaxante, imagine-se numa cena ou situação em que consiga ver-se da maneira que gostaria de ser. Nesta cena, como você se sente? O que você ouve? Sente o cheiro de alguma coisa? Você está-se movendo? O que você vê? Como é que você fala? Envolva todos os seus sentidos para tornar a visualização o mais real possível. Tente memorizar para si todas as boas sensações sentidas.
Dica: O exercício de visualização, preferencialmente deve ser feito depois de fazer os exercícios de respiração e/ou de relaxamento (scan corporal). Desta forma, aumenta a eficácia da sua visualização.
Afirmações. As palavras podem transmitir uma energia incrível. O que dizemos a nós mesmos repetidamente, é gravado na nossa mente subconsciente, tornando-se num impulso para a ação. Se nos dizem repetidamente que nós somos incapazes, e tímidos demais para fazer qualquer coisa bem sucedida, vamo-nos tornando cada vez mais conscientes das provas que possam apoiar este “facto”, e as nossas ações serão sempre correspondentes ao que dizemos a nós mesmos. Da mesma forma, se repetidamente, dizemos a nós mesmos que somos capazes, confiantes e habilidosos, a nossa mente subconsciente, provavelmente, irá orientar-nos no sentido de passarmos a agir e pensar em conformidade com esse “facto”. Embora, não possamos mentir para nós mesmos, a visualização e as afirmações positivas são úteis para nos colocar no caminho dos padrões do pensamento positivo.
Aceite a rejeição sem personalizar. Devemos por vezes ter a capacidade de aceitar a possibilidade de que podemos ser rejeitados sem sentirmos que foi um ataque pessoal. Lembre-se, você não está sozinho no mundo, existem pessoas que pensam e agem de forma diferente e inevitavelmente todos nós em algum período da nossa vida vamos sentir o peso da rejeição. É parte da vida e faz parte do processo de aprendizagem. A chave está em como lidar com as rejeições. Como já referi, estar mentalmente preparado pode ser uma vantagem.
Fonte : http://www.escolapsicologia.com/como-superar-a-timidez/